Louise Nakazawa - Médica Psiquiatra ou Mizume Ryu - Akashayana - A Força do Dragão protetor da Sangha, com a leveza e adaptabilidade da água, por vezes suave como o orvalho, por outras fortes feito temporal. Seu coração feminino - parte japonês -timido e delicado, teima em mascarar o fogo que queima silenciosamente em seu inegável sangue italiano...

Combinei com Michael de irmos cedo à Capela, a fim de ajudar Amanda na organização do jantar – em torno das 5hsPm estávamos lá. Como o combinado 08h30min todos já haviam chegado – inclusive Isaac, sempre o último a chegar e o primeiro a sair – se antes eu podia imaginar, agora sei bem o pq...
O jantar foi agradável e a troca de presentes bastante divertida, principalmente o amigo secreto. Alguns fatos merecem destaque: Sr. Gray ganhou 2 gravatas vermelhas (Amanda e eu) e por sua vez presenteou Amanda com munição especial e um “terninho preto”; Já do professor ela recebeu uma barra de prata – segundo ele “matéria prima” já que não possuía habilidades para transforma-la em uma adaga... J’J como meu amigo secreto lembrou o fato de eu, antigamente ter “medo” dele, nunca tendo entrado em seu quarto... e me presenteou com uma roupa de gueisha – erótica, lógico – não pude evitar de enrubescer de vergonha. Ironicamente Águia tirou Isaac como amigo secreto... fiquei um tanto constrangida, sem necessidade alguma, mas fiquei, assim como fiquei ao receber o presente de Isaac – um lindo e delicado lenço de seda vermelho, com um dragão bordado... Fiquei constrangida por diversos outros momentos e, embora tenha evitado ao máximo demonstrar qualquer atenção especial, olhei com inevitável tristeza quando ele partiu, não exatamente por sua ausência, mas por imaginar para onde ele estaria indo e se ainda voltaria... Dentro de uma das espadas que lhe presenteei, havia uma poesia, há muito escrita – em japonês – não sei pq o fiz, mas o fiz. Ele ainda não viu.
Durante um momento a sós com Amanda falei superficialmente sobre minha angústia, sobre Michael e pedi sua ajuda para localizar o pai do bebê assassinado, sem contar-lhe nada sobre o caso e pedindo sigilo absoluto... Até tentei usar magia pra localizar o suspeito, mas a resposta foi muito vaga... Gostaria de pedir ajuda à J’J, mas se Isaac quisesse isso ele mesmo o teria feito, portanto só me restou lamentar meu fracasso...
No caminho para casa com Águia, conversávamos sobre a noite anterior e comentei como me sinto mal por ter que esconder coisas do meu avô... “esconder coisas” - acho que foi essa a “gota d’’água”, o estopim para a bomba que explodiu a seguir... Michael perguntou sobre o que tem me incomodado tanto e por que preciso esconder... Tentei dizer que não gosto desta situação, mas me sinto obrigada, pois certas coisas não devem nem podem ser ditas; disse que faço isso na tentativa de afastá-las, fazer com que não existam... ele argumentou dizendo que talvez eu esteja escondendo algo de mim mesma...
Fui sincera ao dizer que o fiz por muito tempo, mas que já não estou mais em condições de esconder coisa alguma de mim mesma... Neste momento o carro parou – havíamos chegado ao meu edifício. Michael disse que iria embora e perguntei pq. “preciso pensar“ ele disse, ”se já não escondes mais nada de ti, então agora precisas aprender a dominar teus sentimentos” – dominar um sentimento... como se isso fosse fácil...

Ainda pedi que ele não fosse, pedi que ficasse comigo, disse o quanto preciso dele neste momento, mas ele ficou impassível... parecia muito magoado e isso foi como uma espada atravessando meu peito. Eu disse o quanto isso me entristece, não queria que fosse assim; que estou me esforçando, mas é difícil e sem ele por perto fica mais difícil ainda... Ele disse que preciso fazer isso sozinha e pediu pra que eu ligue quando me julgar pronta – “vou precisar de provas” disse antes de partir.
Subi sozinha o elevador e os 10 andares que separam minha casa do chão, embora tivesse visto meu chão partir há alguns instantes... Abri a porta e não havia ninguém - percebi o quanto minha casa fica vazia sem ele, o quanto eu fico vazia sem ele e fiquei... desesperada – pois só em desespero eu faria o que fiz – liguei para minha mãe, pedi sua ajuda.


O tempo mudou de repente,
Assim, como as coisas sempre são.
E houve um vendaval...
O mar ficou agitado e tudo voou...
Agora se ouvem os trovões
E relâmpagos brilham no céu:
Sinais de tempestade...
Ela vem, purifica, lava
e leva consigo tudo que precisa ir...


Num período que, para mim variou entre segundos e semanas, ela chegou. Eu estava no mesmo lugar, sentada no sofá, próximo a porta, ao lado do telefone, minha bolsa e casaco estavam no chão e foi assim, fragilizada e totalmente perdida que contei a ela tudo que está se passando em meu coração...
Tive o cuidado de não entrar detalhes que comprometessem meu segredo; também não contei sobre a família de Isaac, só disse que tenho um vínculo muito forte e que não posso deixar de me preocupar com ele, que não pretendo fazer isso, nem por Michael, mas também disse o quanto sei que não quero perdê-lo...
Das coisas que ela disse só o que lembro de ouvir com atenção foi que preciso descobrir o que tanto me atrai no Isaac, que preciso mudar o tipo de carinho que tenho por ele, o tipo de preocupação.
No fim da conversa tive algo que não lembro de ter tido antes, talvez por nunca pedir ou talvez nunca tenha precisado tanto: colo de mãe! E pela primeira vez na vida ela me viu chorar, me pôs na cama e velou meu sono... Nunca estive tão próxima dela, nunca me mostrei tanto... Apesar de toda a dor, isso foi bom e provou que tudo tem razão para acontecer, dormi mais aliviada...