Louise Nakazawa - Médica Psiquiatra ou Mizume Ryu - Akashayana - A Força do Dragão protetor da Sangha, com a leveza e adaptabilidade da água, por vezes suave como o orvalho, por outras fortes feito temporal. Seu coração feminino - parte japonês -timido e delicado, teima em mascarar o fogo que queima silenciosamente em seu inegável sangue italiano...



NY, Dez, 28. Sex. 2000

Acordei sentindo a harmonia fluir... vesti um kimono e desci; procurei Michael, mas ele já havia ido partido – conforme me informou “Sr. Gray”. Depois do café fui até o hospital ver a pequena Anna. Levei algumas coisas para ela e brincamos toda a manhã – percebi que Isaac havia deixado lá alguns de seus presentes de Natal – a mandala de proteção que lhe dei e o cristal, dado pelo professor para “trazer alegria”... faz sentido, já que sua a única alegria mora ali... naquele quarto - não pude deixar de me emocionar...
Almocei com Bartollo e meus pais – precisava passar um tempo com eles antes desta noite... Disse que passaria o final de semana com Michael - assim posso me dedicar às questões da capela - e voltei para lá: A Capela... onde preparei meu corpo e mente para o confronto iminente... Sarah...
Havia chegado o momento - nos reunimos para as últimas coordenadas – era hora de exercer minha função de líder de combate. Alex e Jhonny uniram-se ao nosso grupo e partimos ao local indicado... A “armadilha” estava montada: lá estavam os mestres das tradições (no meu caso Michael), os líderes da tecnocracia e nós – incluindo Isaac, que não parecia nada bem, mas sugeriu que eu não interferisse...


Demorou um tempo até que a batalha começasse; ouvimos sons vindos de um lugar invisível: o Shen, e de repente criaturas atravessaram a película... e atrás delas Ms. Won! Pude sentir a força de minha espada e fiquei profundamente honrada em empunhá-la. Tiros cortavam o ar, magias eram lançadas e no ardor do combate pela primeira vez compreendi o significado de “Águia Azul”, ao vê-lo saltando majestoso num movimento perfeito... Depois de um tempo já não ouvia mais nada... mente, corpo e espada fluíam em harmonia, “ser água”. A batalha foi breve, os nefandi foram dizimados, mas Sarah... nem sinal!
Ms. Won nos disse ter encontrado o refúgio dela dentro do Shen, mas não podíamos segui-la, não naquele momento: A capela hermética havia sido destruída! Amanda e os seus reuniram-se e partiram – Nós voltamos para a capela...

Passei a madrugado com J’J na angústia pelo retorno de Amanda. Ms. Won nos acompanhou. Já era dia quando ela chegou... embora não fosse física, sua a dor era visível, palpável... e dado ao vínculo entre nós, tão fortalecido nos últimos dias, eu quase pude senti-la... Não havia palavras, consolo ou conforto, por isso a abracei e subi ao meu quarto deixando-a sob os cuidados de J’J, na esperança de que seu carinho – e o bebê – lhe trouxessem ao menos um motivo... uma esperança.




NY, Dez, 29. Sáb.

Hoje pela manhã, após meditar sob a neve, fui ‘interrogada’ pelo Sr. Gray quanto a ‘lista’ que havia ficado comigo, na noite anterior – a urgência em seu tom era notável, apesar da recusa em revelar suas intenções. Neguei seu pedido, lógico, nossa cabala não compactua com seus ‘métodos pacifistas’. Apesar de irritá-lo, isso não parece ter impedido seus planos, talvez só atrasado. Concordo que esta guerra entre os vampiros requer medidas urgentes, sobretudo pelo número de inocentes em risco, mas neste momento, sobretudo hoje, não podemos resolver... O que não significa compactuar com a tecnocracia, ou seja, concordar com um provável massacre – Conversei com a Amanda e então resolvi avisar Denian, ligando para seu telefone de contato, mas novamente ninguém atendeu... Não pude fazer nada... isso me perturba.
Durante meu treino com Mestre Won, fizemos uma viajem ao meu ‘dojo’ interior - a representação dos diversos aspectos que marcaram meu aprendizado: coisas, lugares, pessoas... pra falar a verdade tinha ‘coisas de mais’ por lá; uma lembrança para cada pequeno objeto; como se eu temesse esquecer aquilo que apreendi como todo meu ser, algo que já se tornou parte de mim... Naquele lugar eu podia ouvir os pensamentos de Ms Won como palavras; ele me disse que as transformações que sofri são notáveis; e que desde que me conhece, só agora me vê como uma verdadeira Akasha, pois só agora me sinto assim...
Disse ainda que e o verdadeiro conhecimento se dá ali - no campo sagrado da Santana - e quando ocorre, se torna algo indistinguível. Compreendi melhor ao andarmos pelo seu dojo: limpo, claro, praticamente vazio, exceto pelos grandes papiros em diversas línguas, que decoravam o local - algumas pareciam bem antigas, incompreensíveis para mim. Ao ‘voltarmos’ passamos ao treino com espadas, digo eu com a katana - Ms. Won, de mãos livres, apenas se esquivava dos golpes, devolvendo socos de alerta toda vez que, por menor que fosse o descuido, eu abria a guarda; chegou até mesmo a segurar a lâmina fazendo-me perder a empunhadura da espada, cravando-a no chão, com um único movimento. Confesso que estes constantes fracassos me frustram imensamente e até mesmo me irritam embora eu saiba que não devesse, afinal, perante ele eu sou apenas um Sidai, nutrindo-me com seus ensinamentos - mesmo assim isso ainda me incomoda.
Á tarde, Armanda e eu corremos no Central Park – aproveitei a visita para avisar Alex quanto ao plano de hoje à noite: Invadir o esconderijo de Sarah dentro do Shen; capturá-la e destruir seu Avatar - É horrível, eu sei, mas é a única forma. O Mestre da Amanda nos acompanhará; ele fará o ritual. Se tudo sair como o previsto, Sarah continuará viva, embora nunca, durante toda a infinidade de voltas da Roda, nunca mais terá uma vida desperta, será condenada a eterna ilusão do Samsara.

Chegado o momento atravessamos a película, percorremos alguns túneis sinistros na umbra, até encontrar o esconderijo da Sarah. Houve alguns combates pelo caminho, onde Alex foi de grande ajuda. No edifício ‘base’ de Sarah, a luta foi mais intensa. Os nefandi eram incontáveis; mas ela estava lá e desta vez foi diferente. Tudo saiu conforme prevíamos. A atuação do professor impedindo-a de realizar magias foi fundamental para nosso sucesso. Pós o combate, o Gilgul foi realizado pelo mestre da Amanda – algo que eu não desejo presenciar novamente – e assim Sarah caiu, inerte, frágil, inofensiva... De volta a capela, tratei seus ferimentos e tentei acalma-la antes de a levarmos aos Coristas – eles a receberam de volta, como a um ‘filho arrependido’; ela nem sequer se pronunciou.

Quando retornamos a nossa capela, Sr. Gray nos aguardava de malas prontas. Sugerimos que descansasse e partisse pela manhã, mas ele parecia aliviado por enfim, nos deixar – e, em grande parte, a recíproca era verdadeira. Na despedida foram trocadas algumas palavras, nada além daquilo que já havia sido dito ‘foi uma grande experiência’ – sua máscara impassível permaneceu até o final. Eu lhe disse: “pode parecer bobo, mas eu realmente acredito que, mesmo escondido no seu coração, o Sr. leve daqui outros sentimentos mais pessoais do que simplesmente ‘uma boa experiência’”; ele esboçou um sorriso, vestiu o chapéu e partiu. Lembro de ouvir alguém dizer ‘espero que da próxima vez que nos encontrarmos, permaneça a trégua entre nós’ – Eu realmente compartilho este desejo, embora algo me diga que ele não...




Passamos, o que inclui ‘Michael e eu’, a noite de Reveillon com minha família - meus pais e avô voltarão aos seus países na próxima semana. Depois da ‘virada’ encontramos o pessoal no Bar do Sr. O’Maley – foi tão bom estarmos todos juntos por prazer, sem pensar em ataques ou defesas... isso tem sido tão raro!
Os tecnocratas cumpriram sua parte no acordo – assim que Sr. gray nos deixou, após termos concluído nossa missão ‘Sarah’, Hellen melhorou e saiu do Hospital!
Esse ano pareceu tão longo... A roda girou pra valer, causando uma verdadeira tempestade, revirando a minha vida. Somando tudo, acho que me sai bem, errei bastante, aprendi com os erros e no final de tudo, me transformei! Abri os olhos pra tantas coisas que antes não percebia e vi o quão simples pode ser a felicidade... Antes eu julgava conhecer o caminho, agora o encontrei e comecei a realmente andar pó ele, viver por ele... A Roda que gire à vontade - já não temo cair, pois já aprendi a girar com ela.

Fim do Ano 2000 – Louise Nakazawa