Preciso mudar o Bartollo de minha casa o quanto antes. Não que eu não goste de tê-lo por perto – apesar de freqüentemente esgotar minha paciência – por mais que pareça incoerente eu gosto de todo o tumulto e invasão de privacidade que meu irmãozinho super protetor causa em minha vida, esse é o jeito dele dizer que se preocupa e eu não posso me zangar por algo assim tão puro; totalmente o inverso da forma que Chang tem de demonstrar afeto, faz parte da diferença de origens: para o Bartollo amar é proteger - enquanto para o Chang é respeitar – formas diferentes, porém ambas nobres. Acontece que até pouco tempo atrás minha vida particular se restringia a eles e a Capela e ter a intromissão do Bartollo em minha vida afetiva não era um problema até porque ela não existia... só que agora as coisas mudaram...
Uma das razões de eu ter optado por vir para NY e levar minha vida sozinha foi ter minha independência e privacidade – coisa que se torna impossível tendo o Bartollo por perto! Não me faz bem mentir para ele sobre tantas coisas, mas contar a verdade seria ainda pior... É preciso que exista uma distancia mínima que seja entre nós para que nossa relação permaneça saudável...
Além disso, há motivos mais sérios para tirá-lo de minha casa e afastá-lo do meu cotidiano, mas esses eu não poderia explicar... Eu jamais me perdoaria se algo acontecesse a algum deles, mas quanto ao Chang me sinto mais tranqüila, de alguma forma ele compreende o que acontece e sabe se proteger, já o Bartollo... Quando me lembro do que aconteceu ao primo Toni... toda aquela armação por ter saído uma única vez comigo... temo muito por eles, mas sei que isso não leva a nada nem pode evitar coisa alguma, pelo contrário, essas preocupações roubam instante preciosos da minha atenção e me fragilizam, logo me enfraquecem...
Só o que posso fazer é esvaziar a mente destes pensamentos ruins e me concentrar em coisas práticas – fazer o que pode ser feito para protegê-los e confiar que isso seja suficiente, pois de resto, o que for pra acontecer, acontece... Só posso torcer para que o karma seja bom...
Hoje foi meu ultimo treino tendo o Águia como mestre. Aproveitei os momentos de meditação ante e post treino para amadurecer os últimos detalhes das palavras que precisaria proferir – o memento havia chegado e nada impede a folha de voar quando o vento é forte – o meu estava prestes a se tornar tempestade... Nossa tradição dedica tanto tempo e dedicação ao exercício da mente e corpo, a harmonia, mas esquece de mencionar as coisas do coração... Como manter todo resto em harmonia com um turbilhão de sensações pulsando no peito? Com o domínio correto sobre a mente pode-se ignorar por muito tempo estes sentimentos, mas não para sempre... é como um espinho no pé, pode-se fingir que ele não está ali, pode-se resistir a dor, mas ele sempre vai latejar ao fundo... até que se arranque ele de vez – foi o que eu fiz...
Conversei francamente com Michael – pois era com Michael, não com o Águia Azul que eu precisava falar – sei que parece loucura tentar separar dois lados de um ser, mas essa era a base da questão... Baixei minhas defesas, me expus - nunca me senti tão “nua” perante alguém... falei de como me sinto em relação de tudo que aconteceu entre nós – talvez nada tivesse acontecido se eu de alguma forma não tivesse... induzido uma situação – de quão confusa está nossa relação mestre/pupila e que, apesar de todo respeito, admiração e gratidão que nutro pelo mestre, percebo que ele tem razão quanto as suas sugestões:não posso mais vê-lo desta forma e não quero mais constrange-lo com esta situação, portanto eu o dispensei da função de mestre, deixando-o livre para dispensar a mim o tratamento que ele quiser de agora em diante, ou mesmo para se afastar definitivamente, se assim julgar adequado.
Disse isso demonstrando toda a certeza do mundo, pois neste momento qualquer resposta seria melhor que a angustiante dúvida que me persegue – porém, eu sabia que no fundo buscava uma determinada reposta e que, se ela não viesse, teria que ser forte e sábia o suficiente para lidar com toda a dor que me consumiria... mas descobri o quão destrutivo pode ser o medo, o quão as coisas podem ser piores no mundo das idéias... Para minha satisfação – Michael também pareceu aliviado por esclarecer este assunto – disse que fica muito feliz por estar livre de suas obrigações de mestre, primeiro por considerar Mestre Won um mestre muito melhor que ele para me instruir e segundo, mas não menos importante, por estar livre para dar continuidade àquilo que mal começou, mas tem muito para prosseguir...
Uma das razões de eu ter optado por vir para NY e levar minha vida sozinha foi ter minha independência e privacidade – coisa que se torna impossível tendo o Bartollo por perto! Não me faz bem mentir para ele sobre tantas coisas, mas contar a verdade seria ainda pior... É preciso que exista uma distancia mínima que seja entre nós para que nossa relação permaneça saudável...
Além disso, há motivos mais sérios para tirá-lo de minha casa e afastá-lo do meu cotidiano, mas esses eu não poderia explicar... Eu jamais me perdoaria se algo acontecesse a algum deles, mas quanto ao Chang me sinto mais tranqüila, de alguma forma ele compreende o que acontece e sabe se proteger, já o Bartollo... Quando me lembro do que aconteceu ao primo Toni... toda aquela armação por ter saído uma única vez comigo... temo muito por eles, mas sei que isso não leva a nada nem pode evitar coisa alguma, pelo contrário, essas preocupações roubam instante preciosos da minha atenção e me fragilizam, logo me enfraquecem...
Só o que posso fazer é esvaziar a mente destes pensamentos ruins e me concentrar em coisas práticas – fazer o que pode ser feito para protegê-los e confiar que isso seja suficiente, pois de resto, o que for pra acontecer, acontece... Só posso torcer para que o karma seja bom...
Hoje foi meu ultimo treino tendo o Águia como mestre. Aproveitei os momentos de meditação ante e post treino para amadurecer os últimos detalhes das palavras que precisaria proferir – o memento havia chegado e nada impede a folha de voar quando o vento é forte – o meu estava prestes a se tornar tempestade... Nossa tradição dedica tanto tempo e dedicação ao exercício da mente e corpo, a harmonia, mas esquece de mencionar as coisas do coração... Como manter todo resto em harmonia com um turbilhão de sensações pulsando no peito? Com o domínio correto sobre a mente pode-se ignorar por muito tempo estes sentimentos, mas não para sempre... é como um espinho no pé, pode-se fingir que ele não está ali, pode-se resistir a dor, mas ele sempre vai latejar ao fundo... até que se arranque ele de vez – foi o que eu fiz...
Conversei francamente com Michael – pois era com Michael, não com o Águia Azul que eu precisava falar – sei que parece loucura tentar separar dois lados de um ser, mas essa era a base da questão... Baixei minhas defesas, me expus - nunca me senti tão “nua” perante alguém... falei de como me sinto em relação de tudo que aconteceu entre nós – talvez nada tivesse acontecido se eu de alguma forma não tivesse... induzido uma situação – de quão confusa está nossa relação mestre/pupila e que, apesar de todo respeito, admiração e gratidão que nutro pelo mestre, percebo que ele tem razão quanto as suas sugestões:não posso mais vê-lo desta forma e não quero mais constrange-lo com esta situação, portanto eu o dispensei da função de mestre, deixando-o livre para dispensar a mim o tratamento que ele quiser de agora em diante, ou mesmo para se afastar definitivamente, se assim julgar adequado.
Disse isso demonstrando toda a certeza do mundo, pois neste momento qualquer resposta seria melhor que a angustiante dúvida que me persegue – porém, eu sabia que no fundo buscava uma determinada reposta e que, se ela não viesse, teria que ser forte e sábia o suficiente para lidar com toda a dor que me consumiria... mas descobri o quão destrutivo pode ser o medo, o quão as coisas podem ser piores no mundo das idéias... Para minha satisfação – Michael também pareceu aliviado por esclarecer este assunto – disse que fica muito feliz por estar livre de suas obrigações de mestre, primeiro por considerar Mestre Won um mestre muito melhor que ele para me instruir e segundo, mas não menos importante, por estar livre para dar continuidade àquilo que mal começou, mas tem muito para prosseguir...
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