Dia 2
Entre tudo o que Julian nos contou, o que mais nos surpreendeu foi
o desaparecimento das tradições e da tecnocraciaÀ princípio pode parecer ruim, mas com tudo a magia se tornou difundida e livremente aceita entre as pessoas.
A Nova Iorque do futuro é divida entre os que, como Julian ainda vivem ‘em baixo’, fugindo dos farejadores durante o dia e dos vampiros durante a noite – parece que eles são o maior dos problemas.
Os lobisomens resistiram bem – embora a luta contra os vampiros seja cada vez pior - e o Central Park e muito maior em relação àquele que nós conhecemos. Os que vivem em cima são uma mistura do que restou da tecnocracia e das tradições, coexistiam sob o comando do presidente – Richard Mason e seu primeiro ministro Evan Gray – parece loucura, mas não é! O ideal político deles parece simples – quem quiser viver sob suas leis vive lá em cima, caso contrário fica em baixo, sendo constantemente ‘controlados’ por seus farejadores.
E nós tivemos uma amostra de como atuam essas ‘coisas’ logo de manhã.
Fomos emboscados por uma meia dúzia deles e enquanto travávamos o combate, não percebemos que o professor avia sido capturado – pra melhor dizer ‘englobado’ por um deles, que o levou consigo.
No meio da confusão em que perdemos um dos nossos, achamos um garoto perdido – no tempo – e confuso; Alex Rider; de alguma forma ele saiu do nosso tempo original e foi parar ali sozinho; acabou auxiliando uma garota lupina a fugir dos farejadores e juntou-se a nós.
Alex Rider
Assumindo que na sabedoria da Grande Roda não haja espaço para coincidências vãs, encontrar ‘no futuro’ um garoto (21 anos) ‘perdido no tempo’ e em seguida descobrir que ele é filho da Sarah (e ela tinha um?) – aquela mesma Sarah, cujo nome ainda hoje nos causa arrepios - é algo no mínimo surpreendente! A pergunta é: qual será o propósito deste encontro?
Enquanto seguíamos em busca do caminho que nos levasse para cima, atrás do Professor, acabamos novamente cercados – desta vez por lobisomens; 4 deles; ficamos na defensiva e quando um saltou em nossa direção, Amanda rapidamente lhe acertou um tiro na perna; os outros fechavam o cerco, minha mão repousava no punho da espada já aguardando o combate iminente, quando algo em meu oponente me chamou a atenção:
Sua katana, muito semelhante a minha, porém maior.
Ele também pareceu intrigado com tal semelhança e neste momento surgiu a menina que Rider havia ajudado a pouco – ela o identificou e o combate se tornou desnecessário – porém eles insistiram em nos levar consigo ao Central Park para que nos apresentássemos ao ‘vovô’ – seu líder – a verdade é que não tínhamos muita escolha, aquele era o território deles e não podíamos perder tempo em discussões.
Andamos até lá – não tirei os olhos daquela katana, mas seu portador não mudava de forma, me mantendo curiosa... quanto mais eu olhava, mais tinha certeza de que aquela era a ‘minha espada ‘, a mesma que eu carregava – não haviam duas iguais – mas como e por quê ela foi parar naquelas mãos...
Algo eu meu coração ousava responder, embora eu me negasse a acreditar...Quando chegamos descobri que o ‘vovô’ era o Johny... (eu até esperava Alex, mas ele já havia falecido) - embora ele hoje não fosse chamado assim a toa – marcas de batalha se faziam visíveis em sua face, tanto que estava até cego de um olho, mas mesmo assim me reconheceu... e custou a entender o que estava acontecendo ali... Da mesma forma que eu...
Dylan foi levado aos curandeiros e Johnny me falou em particular... minhas suspeitas quanto a katana e seu portador estavam certas (como dizem ‘coração de mãe não se engana’) – na verdade portadora... ele não me disse muito, mas fez melhor:
Permitiu que eu visse com meus próprios olhos.Sai buscando por ela – ‘lâmina afiada’ - e só a reconheci pela katana nas costas e a bandana na cabeça. Agora era só uma garota, do meu tamanho e porte físico, porém com os cabelos louros, de pontas vermelhas – parecia ter sido cortado displicentemente com faca, caído no queixo.
Fui me aproximando, com o coração palpitante, ‘O que dizer? Como dizer?’, ela parecia estar montando guarda; me olhou de um jeito invocado... um olhar tão familiar...
Fiz uma reverência – fui respondida, então respirei fundo e me aproximei;
Elogiei a katana e perguntei como ela havia conseguido, não foi fácil como eu pensava. Ela ficou desconfiada, me devolveu a pergunta.
- Bem, eu a recebi do meu avô. esta espada pertenceu a muitos antes dele, toda uma dinastia de samurais, ela nunca saiu da família; é uma grande honra empunha-la... Tu deve saber que não há duas iguais..
Ela balançou a cabeça olhando minha espada, meio insegura quanto a isso; olhei para as espadas e continuei:
- Elas não são iguais porque são a mesma. Como tu deve ter ouvido, nós viemos do... passado... E, a menos que tu seja uma Nakazawa, tu não deverias a estar empunhando.
Ela refletiu um tempo... depois, baixou a guarda e respondeu:
- meu nome é Ingrid Nakazawa Ravenclaw , e eu acho que sei quem tu é.
Ela me olhou nos olhos – o mesmo azul que me fazem ‘olhos de mar’
e eu a abracei... Por que não existiam palavras para aquele momento.
Ela tinha cerca de um ano quando foi entregue sob os cuidados dos lupinos – a guerra tinha chegado e nós, sempre soldados, precisamos deixá-la num lugar seguro, entre o ‘seu povo’. Ao que tudo indica pretendíamos voltar, mas... não foi possível e ela foi criada entre eles.
Embora pouco sabendo de nossa história, percebi que ela exibia com orgulho tudo que lhe restou de mim: a katana, a bandana e o colar. Senti sua mágoa ao falar disso – ela não entende, ou apenas não concorda com o porquê de termos a deixado ali – e naquele exato momento pude enfim compreender as escolhas de minha mãe...
Algo que sempre me magoou agora parecia tão claro... Lembrei de suas palavras e elas soaram como se fossem minhas:
‘Sei que fiz isso pelo teu bem... não podia te negar a criação da qual tu precisavas, mesmo que fosse longe mim’Depois de lágrimas e abraços a deixei em seu posto de guardiã e sai a procura de Dylan. Precisava dividir isso com ele, embora sem saber bem como. Ele estava sendo cuidado em um local ‘sagrado’ e fui impedida de entrar.
Queria estar com ele e isso me irritou, mas só me restava esperar...
E foi então que fui ‘convocada’ mentalmente por Amanda, para auxiliar-lhes num assunto que envolvia Julian.
Que ele já nasceu desperto nós suspeitávamos, mas o quão cedo seus poderes evoluíram e em quais proporções, nós sequer imaginávamos!
Foi preciso criar um tipo de ‘trava’ mental para protegê-lo até que tivesse maturidade suficiente para lidar com isso – E ele se culpava por não ter ‘feito mais’, senti-a impotente e atribuía isso as travas que e não conseguiu quebrar sozinho.
Nós as tínhamos colocado e agora nós as tiraríamos – embora sem fazer muita idéia de ‘como’, já que fizemos isso no ‘futuro’...
Amanda, J’J e eu fomos juntos ao jardim de seus pensamentos; o Santana; onde o ‘tesouro’ protegido mostrou-se para mim como uma lótus branca, guardada por uma gruta de pedras e espinhos, os quais nos tivemos que remover cuidadosamente...
Foi trabalhoso, demorado, mas bem sucedido!
Quando abri os olhos novamente, Ingrid estava lá; ela e Rider observavam com curiosidade nosso ritual conjunto. Convidei-a para uma caminhada – estava ansiosa para reencontrar Dylan e pouco tempo depois de andarmos vimos ele se aproximando; caminhava perfeitamente! Totalmente curado!
Apresentei um ao outro e contei a ele da forma mais simples possível algo assim tão complexo - estamos juntos a menos de 1 mês e agora nos deparamos com nosso futuro... e nossa filha... a filha que ainda não tivemos....
Eles se estudaram por um tempo – tinham o mesmo jeito invocado e olhar desconfiado, selvagem. Eu estava maravilhada com a semelhança entre eles, embora Dylan não canse de dizer o quanto ela se parecia comigo... é verdade que tem os meus olhos, mas o olhar é o dele.
Ela foi designada por Johnny (ou ‘vovô’) para ser nosso guia até a cidade aérea, (pra onde certamente os robôs tinham levado o professor) – o que nos proporcionava algum tempo juntos. Apesar da preocupação com o professor, estava meio anestesiada com tanta informação e por outro lado contente com a idéia de conhecer melhor aquela menina - apesar de ser tudo tão repentino me sentia profundamente afeiçoada a ela – Dylan parecia ainda mais anestesiado do que eu e se mantinha em silêncio.
- Ela ainda nos estudava...
No caminho recebemos um convite por escrito, do ‘secretário de segurança’ (lê-se Gray); seríamos recebidos ‘lá em cima’ - E de fato fomos! Quando subimos (por uma espécie de elevador) nos deparamos com uma visão completamente diferente do mundo lá de baixo: era um tipo de ‘cidade modelo’, calma, organizada e limpa, surpreendendo até mesmo Ingrid e Julian, que pertenciam àquela realidade, mas nunca haviam estado ali.
Fomos levados – por Gray – até o professor, que estava bem e descansava sob a proteção do presidente Mason. Gray era o mesmo, havia envelhecido e abandonado a tecnocracia, de fato, mas mantinha o mesmo jeito de tecnocrata.
O menino Mason, ou melhor,dizendo, ‘o Sr. Presidente’, já não era nenhum menino – tinha cerca de 40 anos.
Era quase irreconhecível – falante, seguro, carismático; Ficamos ainda mais surpresos ao sabre sobre a primeira dama – Rachel – com quem tinha 1 filho.
Conversamos com ele e Gray sobre o porquê de nossa ‘inesperada visita’, ouvindo atentamente tudo que foi dito na esperança de descobrir qual fato culminou na guerra; qual passo precisaria mudar, mas não era assim tão simples...
Muitas coisas aconteceram, todas aparentemente significativas e relevantes para a guerra que se gerou. Parecia impossível destacar um fato como culminante – Tínhamos que analisar detalhadamente todo o caminho que levou ao caos, mas para isso precisávamos primeiro conhecer cada passo – e não seria num dia só.
Fomos hospedados pelo Gray, sob ordens do Mason, em uma casa ‘padrão’, estilo Bauhaus e com tecnologia tão moderna que parecia uma mistura de tecnocracia com algo que o professor faria – acabamos descobrindo que muitos das coisas que haviam na casa foram, de fato, projetadas pelo professor!
Havia 4 quartos: Dylan e eu ficamos com o quarto do térreo, Amanda e J’J no segundo andar e Julian e o professor ocuparam o quarto do sótão. Ainda restava 1 quarto no segundo andar com duas camas de solteiro e Ingrid se instalou nele, mas recusou a dividi-lo com Rider ou outroqualquer; tentei conversar com ela para resolver a situação mas acabei piorando tudo e como resultado ela deixou o quarto para Rider e acabou dormindo no tapete da sala – em sua forma animal...
O que me soou como algo que o Dylan faria.
Fiquei triste por não saber lidar com ela, por não conhecê-la, por não conseguir me aproximar, por nunca tê-la criado...Por mais estranho e complicado que isso fosse para nós, para era ainda pior; era sua vida virando de ponta cabeça – de repente os pais que nunca passaram de lembranças turvas estavam ali, diante dela, pouco mais velhos do que ela, sem sequer fazer idéia de sua existência!
Eu não queria ser para ela a lembrança da mãe que nunca voltou e também não entendia como nós tivemos coragem de tomar a decisão e entrega-la a eles, por isso respeitava a magoa dela.
Minha cabeça pulsava, dava voltas e voltas sem chegar a lugar algum – num momento eu me perguntava como fomos tão inconseqüentes em trazer um bebê ao mundo naquelas circunstâncias (ela nasceu bem em meio à confusão) e pensava em não repetir o erro; logo em seguida me via apaixonada por ela e pela idéia de ter um filho com ele e achava que então seria melhor adiantar sua chegada para que não fosse tão pequena quando a confusão começar (caso não possamos impedir).
Pensava ainda em arrancar aquele colar fora, para que ela não fosse um deles e assim não pudéssemos entregá-la...
Dylan também estava confuso, mais sobre como lidar com ela – não pensava sobre ‘o que fazer, o que não fazer’, até por que na cabeça dele tudo parecia bem mais simples do que na minha: se ela existe é assim que deve ser!
Conversamos sobre isso e como sempre ele me fez sentir mais clama e segura – não só porque meu corpo encontrou o dele, mas porque ele me entende, me conhece e sabe como acalmar meu coração.
6:30 AM |
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