Acordamos com o som de um alarme – corri na janela e vi o professor parado, imóvel, no pátio vizinho (?) – o que ele queria lá, ainda não sei, mas foi pego pelo sistema de segurança que ele próprio projetou (um tipo de toxina paralisante muscular disparada por contato, pela agulha escondida na superfície do muro!); conversamos com o pseudo ‘mal-entendido’ foi resolvido rapidamente.
Depois do café recebemos a visita do Gray, que nos ‘equipou’ com carros e telefones (que mais pareciam escutas). Dylan, Ingrid e eu usamos um tipo de nave para descer em segurança até o Central Park – eu dirigi! Precisávamos pedir ‘autorização’ para que ela nos acompanhasse durante todo o período que ficaríamos ali; ela queria isto e Dylan e eu estávamos animados com a oportunidade de a conhecermos melhor – chegando lá, vovô Jhonny perguntou apenas se era isso que ela queria – ela concordou e sorriu meio tímida – e ele ficou feliz com isto (consequentemente nós também!).
Ele perguntou como era ‘lá em cima’, bonito?
‘Bonito sim, como uma flor de plástico’ eu respondi.
Ingrid havia trazido uma bolsa de comida (nós nem havíamos percebido), o que o deixou muito feliz!
Saindo dali fomos em busca de Nikki; eu pensava nisto desde que Julian me contou que ela sobrevivera e hoje tinha uma floricultura na saída da ilha. Deixamos o ‘carro’ em lugar seguro e seguimos a pé – não tínhamos nenhum um endereço ou ponto de referência, só uma direção e por isso levando um bom tempo para encontrar a floricultura no Brooklyn.
Entramos – parecia vazio, embora me sentisse sendo observada (tive a mesma sensação algumas vezes durante o caminho pra ali); toquei a campainha no balcão ao fundo e poucos tempo depois fui atendida por uma mulher, na faixa dos 40 – minha sidai, Nikki...
Ela ficou assustada (o que eu já esperava) e perguntou o que era aquilo – clones?
Eu disse que não, que era eu mesma, vinda do passado (ou visitando o futuro); que nós havíamos recebido um pedido de ajuda para vir até ali, buscar respostas e direções para que pudéssemos impedir que as coisas chegassem aquele ponto.
Enquanto eu falava com ela, senti que Dylan e Ingrid se aproximaram de mim, de minhas costas, em posição de alerta contra algo que se movia do lado oposto da floricultura, como se estivéssemos encurralados, mas não olhei para trás, nem por um instante – meus olhos se fixavam nos dela, buscando e permitindo a confiança.
Disse que sabia que sempre poderia confiar nela, minha sidai, minha primeira e, da onde eu vinha única sidai; ela havia sobrevivido a tudo aquilo e toda informação que pudéssemos coletar era importante.
Ela pediu uma prova de que eu era mesmo sua sifu; e eu respondi:
– Eu trouxe comigo, ao teu encontro, tudo o que tenho de mais valioso (maneei levemente a cabeça apontando os dois, que pareciam assustados); olha nos meus olhos e encontra a verdade; ouve o que diz teu coração.
Senti Dylan e Ingrid relaxarem – seja o que for que os tivesse ameaçando parecia ter sumido. Ela também pareceu relaxar – seu coração lhe contara a verdade – ela sorriu e nos ofereceu chá; fomos conduzidos a outra peça e durante o chá eu a observara atentamente: tinha se tornado uma bela mulher, embora eu me perguntasse o que havia apagado aquele imenso brilho do seu olhar; ela ainda era gentil, mas de uma forma triste, distante;
O que de tão grave havia acontecido para que o coração saltitante se tornasse tão duro...
Depois do chá, ela pediu que eu a acompanhasse – garantiu que eles ficariam em segurança e senti que podia confiar em suas palavras. Andamos até o fundo da construção, passamos por um pátio, chegando a outro prédio, um tipo de abrigo para crianças e jovens órfãos: um lar e uma academia onde a Irmandade não morrera! Fiquei feliz com isto – uma das poucas coisas que me alegrou naquele lugar, ver todas aquelas crianças treinando, saber que minha sidai não esquecera os princípios que lhe ensinei, (‘o dragão precisa de muitas escamas’) e que havia se tornado forte o suficiente para permanecer em pé, enquanto tudo desabara...
No início da conversa ela se manteve distante, ríspida, como se não quisesse tocar em antigas feridas; parecia guardar algum tipo de mágoa ou rancor de mim...
Isso doía fundo, até porque eu estava sendo ‘acusada’ por coisas que ainda não tinha feito, que em meu coração não compreendo e nem pretendo fazer!
Perguntei a ela porque é que todas as pessoas que me são importantes foram tão hostis ao me reencontrar? Ela baixou a cabeça, não respondeu, mas no final da conversa eu entendi... Entre as tantas coisas que Nikki me contou, pude entender a amargura de seu coração: ela havia perdido três filhos; o primeiro durante a invasão de Argos...
Quanto ao pai, ela relutou em contar por medo que, sabendo disto eu tentasse protegê-la;
– 'Não cabe a mim, impedir que enfrentes teus karmas, mas é meu dever garantir que estejas preparada para enfrentá-los' – ele também foi/ou será meu sidai, seu nome é Lian e ele a abandonou quando soube do bebê...
Argos caiu porque naquela noite alguém lá de dentro baixou as defesas e permitiu a invasão – houve um traidor! Mas quem?
Havia (ou haverão) muitos discípulos! Muitos, recém-despertos, encontraram em Argos seus mentores. Nós os acolhemos e na tentativa de protegê-los, escondemos muito do que acontecia e com isto não os preparamos para o que estava por vir!
E naquela noite fatídica, nós não estávamos lá – estávamos em algum lugar, lutando para impedir a guerra sem saber que havíamos sido derrotados...
Quando Argos foi destruída, não foi só a capela que caiu - uma casa pode ser reerguida, mas não uma família! Muitos morreram e os que sobreviveram não puderam suportar tamanha dor – a traição, as mortes e o ‘abandono’ que sentiram... Coisas foram ditas e palavras são espadas afiadas... Deixaram feridas tão profundas que nunca cicatrizaram...
Voltamos para a floricultura e lá apresentei pessoalmente Nikki e Ingrid – elas já haviam se encontrado antes, em combate e Nikki já desconfiara das origens da menina empunhando ‘aquela katana’, mas agora eu as apresentava de verdade; queria que elas se vissem da forma como sempre deveria ter sido:
Ambas minhas filhas, filhas de meu coração...
Enquanto saíamos da floricultura pude ver os vultos dos Ninjas estrategicamente posicionados em meio as flores. Por meio deles ela protegia, ou controlava toda aquela região!
Nikki convidou Ingrid para que voltasse ali – disse que ela seria sempre bem vinda, mas notando que a menina só concordará com a cabeça, sem muita certeza, ela insistiu:
– Eu não to falando só por falar, é sério, eu gostaria muito que tu me viesse! Ingrid pareceu ter dado atenção às suas palavras e combinou de voltar.
Nos despedimos de Nikki e quando fazíamos o caminho de volta, Dylan, percebendo o quanto eu estava abalada disse a Ingrid: _Dá um abraço na tua mãe que ela tá emotiva! Ela deu... E ele se uniu ao abraço, nos cobrindo e protegendo com seus grandes braços, como se nós três fossemos uma coisa única...
Uma família!
De volta pra ‘casa’, preparei o jantar – Foi quase um banquete, Ítalo-Nipon! Aquilo foi para todos, mas especialmente pare ela – queria lhe apresentar suas origens e lhe proporcionar um pouco daquilo de que foi privada – O que foi estendido após o jantar – conversamos muito e pela primeira vez ela se mostrou interessada em saber mais de nós; contei sobre minha família (e dela também!), sobre minha história, sobre a história da Katana Nakazawa e de nossos ancestrais samurais – e sobre Dylan... Contei de forma romântica como nos conhecemos e depois pude ouvir a versão dele; foi estranho falar de coisas tão recentes para nós e tão antigas para ela!
Julian nos acompanhava, contando histórias e ouvindo atentamente – tão encantador apesar de tudo que passou!
Pela primeira vez Ingrid se deixou ver, ‘baixou a guarda’ (como eu havia pedido na noite anterior) e contou coisas dela, de sua criação, de seu papel entre os Garous – ela é um soldado, assim como nós; Dylan ficou orgulhoso, embora demonstrasse isso, assim como seu carinho por ela, de uma forma meio indireta... mas que ela devia compreender, talvez até melhor que eu, por ele ser tão parecido com a ela mesma!
Naquela noite pedi secretamente para que Rider a deixasse ficar com o quarto – imaginei que ela nem se lembrasse de como era dormir numa cama e queria que ela tivesse, ao menos uma vez, a memória de ser posta para dormir por sua mãe...
Ela tentava parecer indiferente àquilo, dizendo que não precisava, que sabia se tapar, mas pude sentir que aquele momento era tão bom para ela quanto para mim...
Não podia reescrever suas memórias, mas podia ao menos lhe dar algumas novas – poucas, mas reais...
E memórias eram tudo que podíamos deixar para ela, antes de partir novamente...
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