Louise Nakazawa - Médica Psiquiatra ou Mizume Ryu - Akashayana - A Força do Dragão protetor da Sangha, com a leveza e adaptabilidade da água, por vezes suave como o orvalho, por outras fortes feito temporal. Seu coração feminino - parte japonês -timido e delicado, teima em mascarar o fogo que queima silenciosamente em seu inegável sangue italiano...



Só percebi a necessidade de pensar no ‘dia seguinte’, quando já estava nele! Foi quando esperávamos o elevador – todos nós –e Dylan passou a mão nas pontas do meu cabelo; minha reação foi automática, um reflexo involuntário da coluna – resposta do meu corpo ao seu toque – E só aí percebi que os outros estavam lá... Olhei para Ms. Won e naquele momento lembrei de Michael e sabia que as coisas não seriam assim tão simples. No elevador Dylan parou logo atrás de mim – Eu pensava rápido ‘o que fazer? o que fazer?’ e ele, que não via problema algum, passava a mão pelas minhas costas e pousava a mão em minha cintura. Quando descemos, deixei os outros seguirem e discretamente segurei seu braço – precisava lhe contar algumas coisas – coisas estas que não poderiam esperar.
O professor fez um alarde quando nos viu para trás, mas para minha sorte, J’J e Amanda já haviam percebido o que acontecia e lhe levaram praticamente arrastado para o café da manhã, enquanto eu explicava a Dylan minha situação com Michael, que só seria realmente acabada quando voltássemos para NY, o que me deixava hoje constrangida perante aos outros, sobretudo Ms. Won - e dizendo isso eu já não tinha muitas esperanças conosco, mas para minha surpresa, ele me puxou para perto e perguntou ‘e eu devo me preocupara com isso?’ – ‘não sei, mas eu entendo se for um problema, só que eu não posso resolver isso agora e talvez seja constrangedor pra ti, eu vou entender e...’ antes que eu terminasse ele me levantou do chão e me beijou...
Fomos para a mesa – ele com o braço sobre mim - e depois de alguma confusão do professor, tudo ficou bem – especialmente após a conversa que tive mentalmente com Ms. Won, que me disse já esperar por isso – que havia até demorado muito pra acontecer e que, se eu estava feliz, não tinha de que me envergonhar. E disso eu tinha certeza – Eu estava feliz... e como estava!


Vestido 1 usado na primeira noite em Vegas: jantar no luxor, meu aniver de 27 e passeio no deserto com Dylan... Ou seja, vestido perdido!





Vestido 2 segunda noite em Vegas: jantar com a cabala local, investigação no cassino e noite com Dylan... Ou seja, outro vestido perdido!
As memórias daquela noite são tão vivas que, se pudesse pintá-las certamente seriam vermelhas!
Rodamos por um tempo conversando banalidades, trocando olhares e risinhos – me senti mais adolescente do que quando eu era uma! Até que chegamos ao deserto – eu não sabia o quanto a noite é fria no deserto; tiramos os sapatos e sentamos na beira da estrada, olhando as montanhas, o céu... o silencio era tão profundo que quase pude ouvir quando as borboletas chegaram... E elas vieram aos bandos...
Caminhamos descalços pela terra fria do deserto, até que chegamos a um tipo de ‘precipício’ e quando eu menos esperava o doido se atirou – simplesmente rolou barranco abaixo!Por um instante me assustei – desci correndo para levantá-lo do chão, mas ele estava bem. Rimos um pouco e eu o chamava de maluco quando pisei numa pedra e me desequilibrei - Aí ele me puxou – meu corpo junto ao seu; ouvia sua respiração pesada, seu cheiro forte, seu coração vibrando (ou seria o meu?)... Eu queria dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas as palavras sumiram... Todos meus pensamentos estavam nele, todos meus sentidos só percebiam ele – tudo o que eu queria era aquele homem, de uma forma que nunca imaginei possível... Ele sentia o meu desejo tão claramente quanto eu pude sentir o seu... Era tudo tão forte, tão intenso... Sua mão forte segurando minha nuca, agarrando meu cabelo... Nada mais importava nada mais existia; só nós dois naquele deserto. De repente ele me puxou com força, sua boca na minha, beijava, mordia... Enquanto aquela mão na minha nuca rasgava meu vestido... E tudo explodiu... Acordando uma Louise que nem eu sabia existir, mas que o corpo dele conhecia tão bem...
Já amanhecia quando senti ‘os pés de volta ao chão’. Não havia restado muito para vestir – meu vestido era pedaços de seda vermelha, algumas no meu corpo, outras misturadas a terra, sangue e suor – Amarrei o que ainda restava e caminhamos de volta ao carro... em silêncio... Ele caminhava nu, com as roupas (o que restou) sobre o ombro. Quando chegamos ao carro de aluguel ele vestiu as calças e a camisa aberta – até porque não havia botões – e vendo minha ‘luta’ contra o vestido que mais mostrava do que cobria, ele riu e me alcançou seu paletó.
Eu sei que não devia, mas estava um tanto constrangida – ou talvez maravilhada, não sei definir, era tudo tão novo, mas de qualquer forma, não sabia bem o que dizer, então não disse nada – só olhava pra ele, não conseguia tirar os olhos dele... ‘agora eu que tô ficando tímido’ – ele disse – então conversamos um pouco, sem falar do que havia acontecido – até porque, nem se eu quisesse eu saberia explicar!
Quando chegamos no hotel, na porta do meu quarto ele perguntou se eu não ia lhe convidar pra entrar – na verdade ele disse algo do tipo ‘tá agora é a hora que tu me convida pra entrar’ – mas como estávamos com ‘crianças hospedes’, não foi assim que aconteceu! Nos beijamos e cada um foi pro seu quarto – Já era manhã e em breve nos encontraríamos de novo...
Mas na hora não pensei nisso. Nem sobre o dia seguinte, os outros, ou mesmo sobre nós. E se tudo tivesse acabado ali mesmo, já teria valido a pena...



Chegamos a Vegas na hora do almoço – almoçamos num Shopping onde tivemos tempo para umas comprinhas – lembrei de minha mãe dizendo ‘traga souvenires’ e assim o fiz. Depois fomos ao hotel que nos foi recomendado – Hotel Luxor –administrado pela ordem de Hermes. Era uma construção monumental – como tudo naquela cidade – em forma de uma grande pirâmide negra. Fomos muito bem recepcionados pela Srta. Aurora (cultista)e rapidamente acomodados em quartos extremamente confortáveis – dividi o meu com a menina Jenny que agora deseja ser chamada de ‘Scarllet’(?) no quarto à nossa direita ficaram os ‘futuros pais’, à esquerda prof. e Ms Won e ao seu lado Dylan e Ryan.
Tivemos um tempo para descansar e nos arrumar para o jantar. A manda havia me intimado para uma ‘noite de balada’ em comemoração ao meu aniversário – embora ninguém tenha tocado no assunto hoje - e por isso (talvez não só por isso) vesti o melhor vestido que trouxe – o mais provocante também: vermelho, seda, costas totalmente nuas – ela exigiu que eu usasse decote, mas não disse aonde!
Nos encontramos no corredor – todos nós. Pude sentir seus olhos sobre mim, mas não o deixei perceber – Ele por sua vez parecia outra pessoa de smoking, embora a roupa lhe caísse extremamente bem, confesso que prefiro o estilo ‘selvagem’ – pude olhar atentamente através do espelho do elevador – embora tenha evitado a troca de olhares, uma vez ou outra aconteceu – essas coisas são mais fortes do que qualquer força de vontade – como me irrita não conseguir dominar minhas ações! Acho que é isso o que ‘instinto’ significa.
Fomos levados ao restaurante pela Srta. Aurora – uma mulher linda, loira, voluptuosa (fiquei atenta aos olhos dele, mas ele não lhe deu muita atenção e isso me deixou aliviada – não sei exatamente porquê ).
Eu achei muito estranho ninguém mencionar meu aniversário o dia todo, nem durante o jantar, já estava até meio triste, me distrai por uns instantes e tive uma grande surpresa: de repente apareceu em cima da mesa um bolo de aniversário dizendo parabéns em italiano e japonês - Fiquei emocionada! Ganhei da Amanda e Julian um par de brincos de safira – lindos.
Depois deste belo momento J’J e Ryan se retiraram – forma fazer algum tipo de ritual de despertar do garoto; dá pra imaginar como deve ser... O professor subiu ao seu quarto e nós (Dylan, Scarlet,Ms. Won, Amanda e eu) fomos até a boate do hotel, beber e dançar – embora Amanda estivesse nitidamente preocupada com o destino do J’J naquela noite o que a deixou bem desanimada, embora ela se esforçasse para me animar e Dylan declarou ser um desastre e por isso não dançaria por nada desse mundo. Assim sendo, dancei um pouco com Ms. Won e Scarlet (que estavam realmente se divertindo) e enquanto dançava, mesmo de costas para a mesa, podia sentir seu olhar, o que me deixou um tanto constrangida e decidi me sentar com eles, precisava de uma bebida.
Não demorou muito e Amanda subiu para descansar – eu insisti em acompanhá-la, mas ela não aceitou. Assim, acabei ficando na mesa, sozinha com o Dylan – algo que eu vinha tentando evitar – com sucesso - desde que ele se juntou a nós.
Conversamos um tempo, não lembro direito sobre o quê – a presença dele assim tão próxima me deixou muito nervosa – o clima entre nós era... quente, intenso, inegável! Depois de um tempo ele me convidou para dar uma volta, tomar um ara fresco, sair daquele tumulto, achei uma boa idéia – boa e ao mesmo tempo péssima, pois estaria realmente sozinha com ele, e disso eu temia e muito! Era como se eu já não me conhecesse, nunca senti algo assim, tão ‘perturbador’... Mas fui... ‘deixar o caminho te levar’...
Para minha surpresa quando chegamos ao saguão, para sair do hotel, ele foi até a recepção e pediu um carro de aluguel; quando indaguei o porquê disso ele argumentou que não tem como sair daquele tumulto sem andar bastante – sair um pouco da cidade.
Foi a melhor coisa que já fiz – Certamente não a mais correta, considerando minha filosofia, mas às vezes o caminho nos leva por trilhas tortuosas para se chegar aos lugares mais belos...


Liguei para meus pais de manhã – eles cantaram parabéns, cada um em seu idioma, foi lindo! Minha mãe percebeu algo em meu tom de vez, me achou triste – ele é boa nisso, mas não sei se é essa a palavra.Hoje quando acordei fui assistir o nascer do sol no deserto, sentada no chão, descalça, sozinha... foi um momento meu, como há tempos não tinha, e senti sim, algo diferente em mim, mas não tristeza... acho que mais ‘certeza’
É aquela velha história das coisas que nos cercam por tempos e negamos ver, mas que num belo dia de repente se tornam tão obvias que já não se pode mais ignorá-las...

É assim que me sinto desde que deixei Michael em NY; embora naquele momento nós não entendêssemos, sentíamos algo no ar... Só Ms Won sabia exatamente o que estava para acontecer... Por isso ontem à noite pedi sua ajuda para encontrar Michael no Shen.

Quando nos encontramos a energia que senti era confusa... havia carinho, mas também havia tristeza, um certo ‘saudosismo’, como se estivéssemos muito distantes, não só fisicamente. Eu disse a ele como me sentia... disse que esta ‘separação’ representava algo muito maior, não só uma viagem da qual ele não pode participar, embora quisesse, devido a sua responsabilidade com a Irmandade, mas um modelo do que sempre vai acontecer...
Nós sempre teremos que ficar em segundo plano, nós, nossos planos pessoais, porque sempre haverá algo mais importante... Ele disse que ‘sempre temos uma opção, desde que se esteja preparado para pagar o preço’ – embora nós dois soubéssemos que a vida de outras pessoas em risco é um preço muito alto, algo que não se pode arriscar – Eu disse a ele que é inevitável que depois de certo tempo, a gente passe a esperar por certas coisas e a fazer planos... só que conosco isso parece tão inviável...

Por um momento ele pareceu não querer ouvir além das palavras, ou enxergar além dos fatos e disse que podíamos acertar certas coisas quando eu voltasse... Fiquei confusa com isso e a conversa acabou assim... triste, especialmente por ser a mais íntima que já tivemos.

Conversei com Mestre Won sobre isso e ele parecia ciente e tranqüilo com tudo isso – Ele me falou sobre a inevitabilidade das coisas... disse que eu tinha que fazer esta viagem sozinha, sem Michael, e por isso teve que interferir, pois Michael fingia não perceber – disse que nós dois precisávamos deixar o caminho nos levar - Em outra vida, Michael teve a mesma oportunidade e fez a escolha errada e por isso muitos morreram – era seu karma – talvez nosso karma, mas isso ele não me disse,
eu apenas sinto, mas ainda não posso ver...
Fiquei perturbada depois da conversa que tive com Águia no Shen – pedi a ajuda de Ms. Won para encontrá-lo, avisá-lo dos planos de invasão da área 51, das ‘crianças’ que encontramos na viagem e que pretendemos enviar a NY assim que chegarmos a Vegas, saber como estão as coisas por lá e, além disso, queria vê-lo – a Roda parece ter dado uma volta completa e ainda não entendo bem o que está acontecendo...

Ele disse algo sobre ‘sempre termos opções, desde que se esteja preparado a pagar o preço’ – sei que isso o magoa também, mas ao mesmo tempo sei que o que me entristece é algo bem maior que a distancia, que a certeza de que sempre estaríamos em segundo plano... me entristece perceber a inevitabilidade se aproximando...

Enquanto eu dirigia o ônibus, Amanda se aproximou. Os ‘meninos’ estavam reunidos em frente à Tv, fazendo uma algazarra enquanto assistiam algum jogo; Ms. Won e as ‘crianças’ estavam no andar de cima. Não lembro bem como começamos a conversa, mas em determinado momento percebemos compartilhar aflições semelhantes...
Amanda me contou sobre suas certezas e inseguranças com J’J – certeza do que sente e de que não consegue conviver com determinadas coisas – insegurança quanto a capacidade de J’J realmente abrir mão destas coisas... sexo com outras pessoas... Para ele ‘sexo’ tem outra conotação, um momento, uma troca, a busca por prazer... não necessariamente vinculado a amor ou outro sentimento qualquer - para ela não: isso a magoa muito... ela chega a duvidas que ele a ‘ame’ realmente.
Eu discordo, acho que o amor pode ter muitas formas.

Contei a ela um pouco sobre minha relação com Michael – ambos sabemos que não se baseia em amor, mas aceitamos compartilhar carinho, respeito, companheirismo – embora na verdade, por todo este tempo eu esperei por mais... que algo mágico acontecesse entre nós...
‘As borboletas’ disse a Amanda – ‘como?’
‘As borboletas na boca do estômago’...

Eu sei que nunca senti as tais borboletas pelo Michael, na verdade eu só havia sentido isto uma vez... pelo Isaac – acabei contando isto a ela, que desta vez não me achou tão previsível.
E agora, esse Dylan, tem despertado coisas que me assustam, com uma intensidade que me tira o ar! Química, desejo, instintos viscerais – uma Louise que eu não conheço e isso me assusta muito!

‘Eu tenho evitado qualquer contato mais próximo, porque no momento que o conheci soube que estava perdida’
‘Eu sei como é’ disse Amanda, as borboletas!

As Borboletas – quase as ouço chegando...

Fomos surpreendidos por uma perseguição na estrada – um carro em alta velocidade era seguido de perto por outros quatro: dois da polícia e os outros dois nós sabíamos muito bem de quem: a Tecnocracia!

Seguimos os carros a uma certa distancia para não chamar atenção, sem perde-los de vista. Começou o tiroteio entre eles, o carro fugitivo teve um pneu furado e entrou no trigal, seguido pelos outros. Quando eles pararam decidimos agir: Ms. Won, J’J eu entramos no trigal silenciosamente e nos dividimos para averiguar os carros já abandonados, enquanto os outros permaneciam no ônibus. Amanda dava cobertura a distancia.

Achei uma menina inconsciente, amarrada e com a cabeça coberta, no banco de traz de um dos carros de polícia. A ‘maldita’ porta estava trancada e por mais que eu a golpeasse não conseguia abrir. Até que J’J veio e rapidamente abriu a outra porta – ainda não sei como – Botei a menina no ombro, a levei para o ônibus e voltei ao trigal com minha katana em punhos, correndo para localizar os outros.
Ms. Won sinalizou para outro carro – avistei um policial, mas ele não sentiu minha presença; tentei seguir despercebida, mas aí... ele me notou

‘Parada’ ele gritou, apontando a arma à distância – usando o Dô, me movi em perfeita harmonia com o ambiente e num movimento rápido com o cabo da espada tornei o homem inconsciente – temporariamente paralisado.
Tirei a munição de sua arma e a prendi atrás da minha cintura, mas quando me virei fui rapidamente surpreendida por um homem de preto, a menos de um passo de distancia, apontando sua arma:

‘Largue a arma transgressora’
Meu coração disparava, não podia largar minha espada, a espada da minha família, mas por outro lado, ele encostava sua arma em meu peito e certamente não atiraria em breve – baixei a espada lentamente, não podia sequer buscar sua mente – seus olhos eram cobertos pelos óculos escuros – foi quando tudo aconteceu...

Simultaneamente uma garra saltou sobre ele e ele atirou...
Cai de joelhos sentindo meu ombro queimando com o sangue quente que jorrava e vi o homem de preto em minha frente ser despedaçado por outro homem... o dono das garras...
Ele se aproximava lentamente de mim, alto, com uma expressão selvagem, mas que ao mesmo tempo não me amedrontava, pelo contrário...

‘Calma, não vou te machucar’
– ‘Eu sei’ respondi.

Ele se aproximou mais e se abaixou sobre mim, eu me encolhi por impulso, meu coração disparava, meu corpo tremia com adrenalina e excitação do combate e da presença dele... Eu sentia seu cheiro, um cheiro de terra, sangue e suor, e isso mexia com meus instintos... Instintos até então desconhecidos... Ele me olhava, seu rosto agora tão perto, sua respiração ofegante - de alguma forma eu sabia que ele também sentia isso... e que sentia o meu desejo...

Os outros se aproximaram preocupados, sem entender o que acontecia; Amanda apontava a arma para ele. Ele a olhou, intrigado ‘Tu de novo?’
- ‘Dylan? Tu que é o Dylan, não é?’ ela perguntou; ele afirmou com a cabeça e me olhou de novo, surpreso: ‘então ela é...?’
‘É ela mesma’ respondeu a Amanda‘
Os outros se acalmaram, falaram algo sobre a perseguição.

‘Tu precisas de ajuda, eu posso te ajudar se tu deixar’ disse ele; balancei a cabeça, ainda tremendo e ofegante; ele me pegou no colo – sua pele na minha...

Apesar da dor e do sangue, eu não conseguia pensar em mais nada além dele...
e sabia que ele sentia o mesmo...




Chegamos no ônibus.
Ele rasgou a alça da minha blusa, sobre o furo da bala - meu corpo saltou, involuntariamente.
‘eu vou tirar a bala, vai doer’ – pedi um instante para controlar meu corpo, diminuindo a dor e a vascularização do local.
‘Ela vai precisar morder algo, uma toalha, um cabo de vassoura’
– ‘Não eu não vou, pode ir’
– ‘Tem certeza?’ ele me olhou incerto, eu só balancei a cabeça, concentrada.
Usando suas estranhas garras ele retirou a bala do meu ombro.
Contive a dor ao máximo – lagrimas corriam dos meus olhos.
Então surpreendendo a todos, ele puxou um punhal e cortou os próprios braços: o sangue escorria; ele segurou firme meus ombros, olhando em meus olhos – meu corpo se contraiu respondendo ao seu toque - seu sangue jorrava sobre mim e os ferimentos foram curando; a mão cortada na porta do carro cicatrizou instantaneamente e o furo da bala diminui, como se tivesse ocorrido há algum tempo...

Contamos a ele os motivos que havia nos levado a ‘caminho de Vegas’; a mensagem do Julian, do futuro, dizendo que eu precisava salva-lo; a área 51 – ele ficou surpreso e nos disse que ia para lá, invadir – sozinho – a área 51; ‘Eles estão desenvolvendo um tipo de vírus que parece destruir o Avatar’.

Dessa forma, embora tenhamos o encontrado antes, ainda assim decidimos invadir a área 51.

Ele seguiu conosco – disse que o carro que dirigia não era dele mesmo e que só tinha uma bolsa com roupas no porta-malas, mas ‘deixa pra lá’.
Quanto à menina que tiramos do carro, ele nos contou que havia conversado com ela num bar na noite anterior – aparentemente ela tem potencial; já estava próxima de despertar.

Agradeci a ele por ter salvado minha vida, 2 vezes.
Sua presença me deixava nervosa
– Parece que te devo duas vidas.
– tu não me deves nada’ disse ele.
- Bem, obrigado mesmo assim.
- Não precisa agradecer. Além disso, tu acabou de me ajudar.

Desviei os olhos e fui cuidar da menina, ainda desacordada; Amanda tentou me persuadir a descansar, me lavar primeiro.
A menina estava estável, mas esse tipo de coisa não consigo deixar para depois. Entoei o mantra, efetuei a massagem nos pontos certos, mas seus chakras não se alinharam... não conseguia me concentrar o suficiente – isso me irritou.
Passei então a tratá-la com medicina tradicional, as ‘drogas’ - uma injeção de adrenalina e seu coração acelerou novamente – ela voltou
Seu nome era Jenifer – ‘Jenny’.

Jenifer “Scarlat”Idade: 19 anos
Tradição: Verbena
Mestre: Dylan ‘Raven Claw’
Caract: prestativa, comunicativa, curiosa, invocada e petulante.
Desperta desde: Julho/2002 - ‘Vegas’ Desde então reside na capela Argos.

Sentei no chão, onde estava ajoelhada – minha tensão era notável.
Ele se aproximou e disse:
- Bom, olha só, tu só tens uma vida e acabasse de dizer que deve ela pra mim. Então tu não achas que deverias relaxar e aproveitar um pouco mais?

Isso me irritou pra valer
- E o que é que tu sabes de mim pra dizer isso? Tu nem me conhece, como é que tu podes saber o que eu faço e o que eu não faço? – me levantei e sai para tomar banho.

Depois de esfriar a cabeça fui me desculpar e esclarecer algumas dúvidas:
-‘Nós pensamos que tu fosses um licantropo, há 6 meses venho tentado te encontrar pra agradecer, agora eu entendo por que meu amigo não te encontrou’.

Ele deu um risinho torto e eu desviei o olhar novamente - não conseguia manter o contato visual por muito tempo.
- Hm, não, não sou isso não... Eu sou um Verbena, e já disse que não tens que me agradecer, eu só fiz o que precisava; nada de mais.
- Bom agora eu já agradeci, tu querendo ou não – respondi sorrindo para disfarçar e voltei a cuidar da menina, fingindo não perceber que seus olhos me acompanhavam...
Viajávamos há dois dias quando J’J teve um sonho, um tipo de presságio – ele precisava encontrar alguém na estrada – seguimos rodando e pareamos numa cidade que literalmente ‘não estava no mapa’:
Democritus End.

Além de fora do mapa tudo lá parecia também fora do tempo, como uma fotografia num livro antigo. Tanto J’J quanto o Prof. enxergavam tudo em preto-e-branco, mas fora isto não conseguíamos entender o que acontecia ou como e por que fomos parar lá. Até que recebemos um convite para visitar o prefeito da cidade me sua casa, ao anoitecer – Sr. Democritus, como o do busto que havia na praça dali.

Quando lá chegamos percebemos que não era um descendente do fundados da cidade, mas sim ele, o próprio – um ‘dos nossos’, ou para ser mais específica, um hermético,
um dos fundadores de Argos e hoje certamente um dos mais antigos e poderosos despertos.

Há muito tempo ele isolou-se do restante do mundo ali, naquela cidade protegida do tempo, mas por algum motivo a roda nos levou até ali, e conosco as más notícias: a guerra, a queda de Doissetep.
Estas notícias o tocaram profundamente, mostrando o quão importante ele hoje se tornou e o quão útil seria sua ajuda.

Assim estabeleceu-se um contato entre nós que por si só explicaria o pq de estarmos ali, porém quando saíamos da cidade passamos por um garoto, de mochila e guitarra nas costas, skate na mão, pedindo carona na estrada
– Ryan – o pupilo que J’J procurava.


Assim nossa trupe cresceu e naquela noite, conversando e rindo eu participei do ritual deles – aquele lance estranho de fumar... Foi legal, muito mais pelo momento do que pelo ato em si!


Ryan Phillips
Idade: 18 anos
Tradição: Culto do Êxtase
Mestre: J’J Jhonson
Caract: simpático, sociável, ‘descolado’, prestativo, ‘conquistador’ e independente.
Desperto desde: Julho/2002 - ‘Vegas’
Desde então reside na capela Argos.
Quando sai de casa de manhã, com Michael, acreditava ter sua companhia nesta missão, embora soubesse o quão difícil seria pára ele ausentar-se por um mês da academia e de seus compromissos com a Irmandade.

Passei o dia em função dos preparativos para a viagem – entreguei minha carta de demissão no presídio – para na volta assumir inteiramente o trabalho no hospital. Conversei com Chang sobre a proposta da nossa academia e negociei o apartamento com meu pai – Também os avisei quanto à ‘suposta viagem de férias’ e avisei Isaac do nosso temporário afastamento.

Ao chegar à capela foi surpreendida pela ‘comitiva akashayana’ que aguardava no jardim – eram os 7 sidais do Águia. Sentei silenciosamente junto a Michael, enquanto os aprendizes atacavam Ms Won – todos ao mesmo tempo.
No final restavam dois rapazes e uma menina e assisti com tristeza até o último cair. Ms. Won veio até nós e com um gesto confirmou a Michael aquilo que já sabíamos – ele não poderia partir conosco.

Por um momento senti raiva – Por que tinha que ser assim, justo agora? por que Ms. Won não podia ficar em seu lugar? Vi a mesma tristeza nos olhos de Michael, mas sabia que era algo indiscutível.

Subi ao meu quarto e os deixei a sós por alguns instantes.
Michael subiu logo depois,triste, desolado - nenhum de seus discípulos estava preparado para ocupar seu lugar e, segundo Ms. Won, apenas um de nós – Águia ou eu – poderíamos representar a Irmandade em NY, logo, um de nós precisaria ficar; quanto a isto, não restava dúvidas - nem alternativas.

Eu ainda não havia percebido o tamanho das responsabilidades que ambos herdamos após o final da guerra. Minha tristeza não era diretamente ligada a nossa separação ‘temporária’ – isso me alertou de algo bem maior... a certeza de que sempre seria assim, um mar de compromissos e responsabilidades nos separando cada vez mais e não dá para lutar contra algo assim.
Ficamos ali um tempo, abraçados, numa longa despedida

certas coisas são inevitáveis e só nos resta encontrar sabedoria para aceitá-las, mesmo sem compreendê-las.

Partimos a noite em um ônibus conseguido por J’J e adaptado pelos ‘amigos’ do professor - o que significa coisas muito estranhas, tipo uma escada de caracol levando a um ‘segundo andar’ ainda no térreo!
E assim fomos - Prof. Oliver, J’J, Amanda (já no 7ºmês de gestação de Julian), Ms. Won e eu
– rumo a Vegas!


Combinei de encontrar com Michael e os outros na Parada, pois não sabia ao certo que hora ia chegar do hospital – e com razão, me atrasei! Deixei a moto na Capela e segui a pé até o local combinado. No meio do caminho ouvi alguém chamar meu nome – ‘Louise’, ‘Louise’, olhei em volta e nada - a voz vinha de um beco. Como era dia claro e as ruas daquela área estavam super movimentadas por causa da Parada, segui a voz. Quando entrei no beco avistei um homem, sob a sombra de uma porta; a medida que me aproximava, ele se tornava mais familiar, porém ainda desconhecido... Jovem, em trono dos 24, negro, bonito – lembrava o J’J, só que menor; cabelo preso, meio curto e óculos escuros.

‘Oi Louise’
– ‘tu em conhece?’ perguntei
_ conheço... – ele sorria; parecia tranqüilo e sincero no que dizia.
_ estranho, porque eu não sei o teu nome e nem lembro de ti,
_ eu vim te dar um aviso: Vocês precisam salvar o Dylan!

Quando ele falou em ‘Dylan’, na mesma hora lembrei do ataque que sofri uns 6 meses atrás – esse era o nome do cara que me salvou e sumiu. Procurei saber dele todos esses meses e nada! Nem o Alex achou.

_ Onde ele tá? O que foi que aconteceu?
_ Eles pegaram ele; a tecnocracia. Estão levando para a área 51 – em Vegas.

Eu não sabia o que era a tal ‘área 51’ e nem como eu ia convencer os outros a ir para Vegas, ainda mais a Amanda com aquele barrigão, mas mesmo assim eu respondi sem piscar:

_ Tá bom, eu vou sim, pode confiar! Eu devo minha vida a ele...
_ É, eu sei que posso. Talvez apareça mais alguém para ajudar vocês. Tomem cuidado!
Era estranho como ele me parecia familiar e falava comigo com tanta intimidade...
_ É bom te ver assim... Á propósito, meu nome é Julian.

E dito isso, ele entrou pela porta da casa em ruínas e sumiu. Quando percebi que ele realmente tinha sumido, me aprecei ao encontro dos outros. Eu tava tão atônita com o que tinha acabado de acontecer que quase não os vi. Michael assim que me viu percebeu que tinha algo errado: ‘ o que aconteceu?’
– ‘eu... vou precisar ir a Vegas’

A Amanda me olhou com uma cara... Fui contando a eles o que havia acontecido e Amanda foi ficando cada vez mais agitada, aí chegou o J’J – que estava comprando maça do amor pra barrigudinha – e eu contei tudo de novo... Só depois ele me explicou o porquê do nervosismo dela:
‘É que nós andamos conversando sobre o nome do Junior e eu sugeri que fosse Julian... ’
Levei alguns instantes pra assimilar a informação... Claro, agora fazia sentido: “Então, era ele, eu vi ele – eu falei com o meu afilhado!”
A essa altura quem estava agitada era eu. J’J achou melhor averiguar e então fomos ao lugar onde eu havia falado com ‘ele’, o meu afilhado! Tão lindo!

O tempo realmente havia sido mexido ali.
Reencontramos os outros e fomos à capela – começar os preparativos para a viagem; estratégias, segurança, etc. O tempo não está a nosso favor – correção: está sim!
O que eu quero dizer é que temos pressa - Julian disse que eles estavam levando o Dylan pra lá, ou seja, ainda não levaram - quanto antes sairmos, melhor! Há muitas coisas a fazer

– Nós vamos a Vegas!

Minha Sidai, minha primeira sidai – veio tanto para aprender quanto me ensinar, sobretudo a ter confiança, independência, me olhar no espelho de seus olhos e assumir enfim meu papel como Sifu, ‘escama do grande dragão’ e não mais simplesmente aprendiz...
Agitada, ansiosa, desatenta... Ela é certamente um grande desafio – o que traz ainda mais satisfação a cada nova conquista! Seu jeitinho meigo, alegre e gentil conquistou meu coração, como uma filha que a Roda me trouxe e a quem quero tão bem proteger, mesmo conhecendo meu dever – ensinar e prepara-la para os batalhas que não poderei lutar por ela...
Havia perdido meu diário – resquícios tardios da confusão mental que sofri em dezembro, quando Amanda precisou ‘organizar as coisas’ pra mim! Então vou tentar por em dia as novidades, algumas já nem tão novas assim:

Amanda e J’J me convidaram para fazer o parto do meu afilhado – ah sim, porque é menino, como J’J garantia desde o começo – Não tenho palavras para descrever a honra e felicidade que senti! Ainda falta cerca de 3 meses e já estou tão ansiosa – imagina eles! Ela está tão linda grávida, tão radiante e ele mais bobo do que nunca!Para que tudo seja perfeito, tenho estudado bastante e assistido a alguns partos no hospital. Talvez este momento seja o mais próximo da maternidade que chegarei...

Quanto ao hospital, estou completamente envolvida com aquelas crianças, praticamente inverti o tempo que passo entre um e outro e só não abandonei a Detenção ainda porque estou estudado como contar isso ao John, mas será muito em breve! Tenho reavaliado muitas coisas em minha vida, não que eu gaste muito tempo refletindo nisso, pelo contrário, os caminhos se mostram por si só, claramente! Hoje me pergunto por que antes era tão difícil tomar decisões? Nossa... Quantos anos eu vivi de olhos e ouvidos vendados, tropeçando em cada pequena pedra em meu caminho... Tudo aprece tão fácil agora, dizer o que precisa ser dito, mudar o que precisa ser mudado... meu apartamento, por exemplo, decidi vende-lo (embora ninguém saiba ainda) – quero usar o dinheiro para propor a Cheng um Negócio, sobretudo agora que ele e Shosi estão praticamente casados: A Academia Nakazawa! Assim ele deixa de ser empregado, eu fico mais próxima de Akashayana em potencial – que estão surgindo aos bandos ultimamente (pretendo incluir Ms. Won neste projeto) e ainda temos uma boa razão para tentar convencer nosso Avô a vir para NY também. Além disso, meu apartamento tem me parecido tão grande e tão frio... A felicidade pede coisas mais simples!

Meus pais já estão instalados em NY definitivamente. Agora estão envolvidos nos preparativos para o casamento, que não deve demorar! Este novo ‘modelo Louise 2001’ tem agradado sobretudo minha mãe, que agora, mais do que nunca, se sente a vontade para ousar e abusar quando o assunto é namoro, sexo ou qualquer intimidade. O que antes me irritava tanto, agora soa até engraçado!

Isaac ‘tomou vergonha naquela cara’ e, enfim, levou Aninha a Grécia! Fiquei responsável por cuidar de Perséfone e avisá-lo no menor sinal de avanço. Estou louca de saudades da pequena, mas posso imaginar sua felicidade agora! Só me dói pensar em vê-la novamente presa àquele hospital depois disso tudo... Se eu pudesse fazer algo, Se sua mãe acordasse... Nunca se sabe - a Roda gira.

Nikki, minha Sidai alcançou o San Chien! Já faz alguns meses e desde então passamos a treinar na Capela. Agora estamos intensificando os exercícios de Do e aprofundando seus conhecimentos. Em breve ela estará pronta para manipular a Dharma, só precisa encontrar a confiança necessária. Além dela e do pupilo do professor, que freqüenta a capela há mais tempo, temos agora a aluna da Amanda – uma nova geração, a Argus adolescente! Esses dias, após a meditação eu perguntei a Nikki o que ela achava dos outros aprendizes; como ela fez pouco caso do menino ‘ele é muito esquisito’, eu argumentei salientando suas qualidades – inteligente, dedicado, etc. - olha o que a danadinha me respondeu: ‘Ah Sifu, a Sra. fala isso mas pega um gostosão, né?’ Fazer o que, ela tem razão!

Falando do ‘gostosão’ – vai bem, muito bem, obrigado - mais gostoso do que nunca; embora mais ocupado do que nunca também! Com esta onda de ‘despertos em massa’ ele assumiu uns 7 ou 8 sidai, além de responder pela Irmandade em NY. É, um homem ocupado! Não temos nos visto tanto quanto antes, mas tem sido ótimo todo o tempo que passamos juntos, aliás, como sempre. Quando menos espero escuto o barulho de chave na porta... É aquela velha história de compensar quantidade com qualidade - vale mencionar que, tenho conseguido levar minha ‘ousadia’ um pouco além do mundo das idéias... O ‘gostosão’ aprova!...

Água – Líder político / Porta voz – Louise










Terra – Manutenção da casa / suprimentos – J’J








Ar – Líder de combate – Ms. Won











Fogo – Contatos / Agenda – Amanda










Espírito – Defesa mágica – Professor



NY, Fevereiro, 2001
Os acontecimentos de dezembro tiveram resultados desastrosos; embora tenhamos capturado Sarah e destruído seu Avatar, como suspeitávamos, ela realmente não trabalhava sozinha – seu ‘superior1, o homem que de certa forma lhe induziu a fazer o que fez, ele não foi impedido... Doissetep foi destruída, e com elaxxx magos, xxx deles Akashayana, além de importantes mestres de todas as tradições. Quando me lembro do Sr. Gray falando sobre ‘fim da guerra’ penso que, se ele se referia a isto, ninguém venceu.
Desde esta grande perda, as coisas se mantiveram calmas – o que me permitiu começar o treinamento da Nikki – Nicole Shay, minha Sidai, quem diria... Embora muito jovem – o que significa toda a pressa e inquietação típica desta idade, ela tem se esforçado bastante – paciência e disciplina, as chaves do caminho... Agora entendo o que Ms. Won me dizia – a melhor coisa de ser uma Sifu é o quanto se aprende com isso...
Voltei a trabalhar no Hospital – ou melhor dizendo – nos hospitais. Convenci John a me ceder durante dois dias da semana para o Hospital Central, assim posso me dedicar ao trabalho que venho desenvolvendo com as crianças da oncologia, além de ficar mais tempo com a Ana. Falando nela, Isaac enfim voltou a Capela, desta vez definitivamente. Certo dia, estávamos todos na Capela, jantado, quando a campainha soou – me apressei a abrir, como de costume, pensando que poderia ser Michael, e quem estava lá – Isaac, caído no chão, todo cortado e ensangüentado – Com a ajuda do J'J o colocamos sobre a mesa da sala principal e tratamos seus ferimentos – tirei energia do meu próprio Chi para dar a ele. Depois que recuperou a consciência, Amanda lhe perguntou “quem fez isso contigo” - “ninguém” ele disse – eu sabia que aquilo foi resultado do caso em que ele estava metido, ele havia me alertado dos riscos, então perguntei: “E 'ninguém' pode fazer isso de novo?” - “não” foi à resposta. Respirei aliviada – agora ele estava de volta!E, ao menos temporariamente, fora de perigo!
Desde então Isaac tem sido presença constante na Capela e no hospital – certo dia enquanto tomávamos um café no hospital, tentei convencê-lo a tirar Aninha de lá, se não definitivamente, ao menos de vez. Seria tão bom apresentá-la ao mundo fora daquele ambiente, afinal já faz mais de 2 anos que ela está ali, e ela só tem 4... Ele concordou e me deu permissão para levá-la para passear quando eu quiser. Ainda me contou sobre a viagem que planeja fazer dentro de alguns meses – quer levá-la a Grécia, mas teme quePerséfone acorde na sua ausência. Claro que me ofereci para tomar conta dela; seria maravilhoso para a Ana passar este tempo com ele e quanto a Perséfone acordar... Bem, já faz 2 anos... se ele for esperar por isso, sabe-se lá quanto tempo vai levar. A Ana precisa disso e ele também!Ele pareceu bem animado com a idéia.
Estou tão feliz com o trabalho que venho desenvolvendo no hospital, que penso seriamente em assumi-lo integralmente. Foi muito importante todo o tempo que passei com a Detenção Psiquiátrica, mas sinto que meu trabalho lá, acabou... E as crianças... Ah, elas me fazem tão bem! Eu vejo tanta alegria naqueles olhos, naqueles sorrisos tão radiantes que até enganam a dor... Tem um menino com cerca de nove anos, carcinoma cerebral avançado, que está prestes a abandonar o Samsara e alcançar o Sam Shien!Estou bastante atenta e apreensiva também – nunca tinha visto algo assim!Eles têm me ensinado tantas coisas e ali eu realmente sinto a grandeza do trabalho que faço com elas, dando suporte médico, psiquiátrico e, sobretudo amor. Eles acham que eu melhoro seus dias, mas na verdade são eles que melhoram os meus!
Bem, elas e Michael também, lógico! Desde que assumimos nosso relacionamento 'às claras' quanto aos sentimentos e necessidades, estamos indo bem. Ele continua maravilhoso, embora sem grandes manifestações de sentimentos, mas quem sou eu pra falar – se bem que, tenho conseguido mudar até isto, minha timidez; estou mais segura quanto ao que quero e como quero, e assim aos poucos abandono meus receios e parto para o 'como faço'... Ao menos Michael não se mostrou nadinha incomodado com estas mudanças...
“Hei Irmão, abra seus olhos e veja o quão belo é o amanhecer. Sinta a vida fluindo através do seu corpo e ao seu redor; deixe-se guiar pelo mundo; sinta a força das pedras, ouça o sussurro do vento - seja o mar. Você é a pedra, você é o vento, você é o mar. Mova-se com a Roda e mantenha os sentidos atentos - às vezes o giro é tão rápido que você pensa que vai cair, mas não vai - você saberá aonde ir, saberá quando e como caminhar. As respostas sempre surgem no ‘caminho do meio’ e no meio do Caminho, só é preciso saber perguntar...”.

“Já estive em tantos lugares, tantos tempos, corpos e batalhas, de algumas me recordo, as ouço, as vejo em sonhos, de outras nem sei... por algum motivo o Bodhidarma mantém algumas portas trancadas. Toda guerra causa dor, independente do resultado, nunca há vencedores... toda batalha deixa cicatrizes, invisíveis, escondidas, mas tão profundas que nem mil giros podem apagar. Será que ‘este’ Amor é uma cicatriz, o karma de algo escondido atrás de alguma daquelas portas? Karma, do qual acredito ter nos libertado! A dor é um fardo suportável, a raiva não; o mundo só nos dá aquilo pelo qual imploramos; eu só peço compreensão”.

“Tradições são divisões fictícias, assim como paredes e corpos também o são. Não somos tão diferentes quanto aparentamos ser, nem tão diferentes quanto nos julgamos ser; Somos todos iguais, somos um, girando na Grande Roda. Querendo ou não, sabendo ou não, somos todos Akasha.”

みずめ りう - Mizume Ryuu - Louise Nakazawa


NY, Dez, 28. Sex. 2000

Acordei sentindo a harmonia fluir... vesti um kimono e desci; procurei Michael, mas ele já havia ido partido – conforme me informou “Sr. Gray”. Depois do café fui até o hospital ver a pequena Anna. Levei algumas coisas para ela e brincamos toda a manhã – percebi que Isaac havia deixado lá alguns de seus presentes de Natal – a mandala de proteção que lhe dei e o cristal, dado pelo professor para “trazer alegria”... faz sentido, já que sua a única alegria mora ali... naquele quarto - não pude deixar de me emocionar...
Almocei com Bartollo e meus pais – precisava passar um tempo com eles antes desta noite... Disse que passaria o final de semana com Michael - assim posso me dedicar às questões da capela - e voltei para lá: A Capela... onde preparei meu corpo e mente para o confronto iminente... Sarah...
Havia chegado o momento - nos reunimos para as últimas coordenadas – era hora de exercer minha função de líder de combate. Alex e Jhonny uniram-se ao nosso grupo e partimos ao local indicado... A “armadilha” estava montada: lá estavam os mestres das tradições (no meu caso Michael), os líderes da tecnocracia e nós – incluindo Isaac, que não parecia nada bem, mas sugeriu que eu não interferisse...


Demorou um tempo até que a batalha começasse; ouvimos sons vindos de um lugar invisível: o Shen, e de repente criaturas atravessaram a película... e atrás delas Ms. Won! Pude sentir a força de minha espada e fiquei profundamente honrada em empunhá-la. Tiros cortavam o ar, magias eram lançadas e no ardor do combate pela primeira vez compreendi o significado de “Águia Azul”, ao vê-lo saltando majestoso num movimento perfeito... Depois de um tempo já não ouvia mais nada... mente, corpo e espada fluíam em harmonia, “ser água”. A batalha foi breve, os nefandi foram dizimados, mas Sarah... nem sinal!
Ms. Won nos disse ter encontrado o refúgio dela dentro do Shen, mas não podíamos segui-la, não naquele momento: A capela hermética havia sido destruída! Amanda e os seus reuniram-se e partiram – Nós voltamos para a capela...

Passei a madrugado com J’J na angústia pelo retorno de Amanda. Ms. Won nos acompanhou. Já era dia quando ela chegou... embora não fosse física, sua a dor era visível, palpável... e dado ao vínculo entre nós, tão fortalecido nos últimos dias, eu quase pude senti-la... Não havia palavras, consolo ou conforto, por isso a abracei e subi ao meu quarto deixando-a sob os cuidados de J’J, na esperança de que seu carinho – e o bebê – lhe trouxessem ao menos um motivo... uma esperança.




NY, Dez, 29. Sáb.

Hoje pela manhã, após meditar sob a neve, fui ‘interrogada’ pelo Sr. Gray quanto a ‘lista’ que havia ficado comigo, na noite anterior – a urgência em seu tom era notável, apesar da recusa em revelar suas intenções. Neguei seu pedido, lógico, nossa cabala não compactua com seus ‘métodos pacifistas’. Apesar de irritá-lo, isso não parece ter impedido seus planos, talvez só atrasado. Concordo que esta guerra entre os vampiros requer medidas urgentes, sobretudo pelo número de inocentes em risco, mas neste momento, sobretudo hoje, não podemos resolver... O que não significa compactuar com a tecnocracia, ou seja, concordar com um provável massacre – Conversei com a Amanda e então resolvi avisar Denian, ligando para seu telefone de contato, mas novamente ninguém atendeu... Não pude fazer nada... isso me perturba.
Durante meu treino com Mestre Won, fizemos uma viajem ao meu ‘dojo’ interior - a representação dos diversos aspectos que marcaram meu aprendizado: coisas, lugares, pessoas... pra falar a verdade tinha ‘coisas de mais’ por lá; uma lembrança para cada pequeno objeto; como se eu temesse esquecer aquilo que apreendi como todo meu ser, algo que já se tornou parte de mim... Naquele lugar eu podia ouvir os pensamentos de Ms Won como palavras; ele me disse que as transformações que sofri são notáveis; e que desde que me conhece, só agora me vê como uma verdadeira Akasha, pois só agora me sinto assim...
Disse ainda que e o verdadeiro conhecimento se dá ali - no campo sagrado da Santana - e quando ocorre, se torna algo indistinguível. Compreendi melhor ao andarmos pelo seu dojo: limpo, claro, praticamente vazio, exceto pelos grandes papiros em diversas línguas, que decoravam o local - algumas pareciam bem antigas, incompreensíveis para mim. Ao ‘voltarmos’ passamos ao treino com espadas, digo eu com a katana - Ms. Won, de mãos livres, apenas se esquivava dos golpes, devolvendo socos de alerta toda vez que, por menor que fosse o descuido, eu abria a guarda; chegou até mesmo a segurar a lâmina fazendo-me perder a empunhadura da espada, cravando-a no chão, com um único movimento. Confesso que estes constantes fracassos me frustram imensamente e até mesmo me irritam embora eu saiba que não devesse, afinal, perante ele eu sou apenas um Sidai, nutrindo-me com seus ensinamentos - mesmo assim isso ainda me incomoda.
Á tarde, Armanda e eu corremos no Central Park – aproveitei a visita para avisar Alex quanto ao plano de hoje à noite: Invadir o esconderijo de Sarah dentro do Shen; capturá-la e destruir seu Avatar - É horrível, eu sei, mas é a única forma. O Mestre da Amanda nos acompanhará; ele fará o ritual. Se tudo sair como o previsto, Sarah continuará viva, embora nunca, durante toda a infinidade de voltas da Roda, nunca mais terá uma vida desperta, será condenada a eterna ilusão do Samsara.

Chegado o momento atravessamos a película, percorremos alguns túneis sinistros na umbra, até encontrar o esconderijo da Sarah. Houve alguns combates pelo caminho, onde Alex foi de grande ajuda. No edifício ‘base’ de Sarah, a luta foi mais intensa. Os nefandi eram incontáveis; mas ela estava lá e desta vez foi diferente. Tudo saiu conforme prevíamos. A atuação do professor impedindo-a de realizar magias foi fundamental para nosso sucesso. Pós o combate, o Gilgul foi realizado pelo mestre da Amanda – algo que eu não desejo presenciar novamente – e assim Sarah caiu, inerte, frágil, inofensiva... De volta a capela, tratei seus ferimentos e tentei acalma-la antes de a levarmos aos Coristas – eles a receberam de volta, como a um ‘filho arrependido’; ela nem sequer se pronunciou.

Quando retornamos a nossa capela, Sr. Gray nos aguardava de malas prontas. Sugerimos que descansasse e partisse pela manhã, mas ele parecia aliviado por enfim, nos deixar – e, em grande parte, a recíproca era verdadeira. Na despedida foram trocadas algumas palavras, nada além daquilo que já havia sido dito ‘foi uma grande experiência’ – sua máscara impassível permaneceu até o final. Eu lhe disse: “pode parecer bobo, mas eu realmente acredito que, mesmo escondido no seu coração, o Sr. leve daqui outros sentimentos mais pessoais do que simplesmente ‘uma boa experiência’”; ele esboçou um sorriso, vestiu o chapéu e partiu. Lembro de ouvir alguém dizer ‘espero que da próxima vez que nos encontrarmos, permaneça a trégua entre nós’ – Eu realmente compartilho este desejo, embora algo me diga que ele não...




Passamos, o que inclui ‘Michael e eu’, a noite de Reveillon com minha família - meus pais e avô voltarão aos seus países na próxima semana. Depois da ‘virada’ encontramos o pessoal no Bar do Sr. O’Maley – foi tão bom estarmos todos juntos por prazer, sem pensar em ataques ou defesas... isso tem sido tão raro!
Os tecnocratas cumpriram sua parte no acordo – assim que Sr. gray nos deixou, após termos concluído nossa missão ‘Sarah’, Hellen melhorou e saiu do Hospital!
Esse ano pareceu tão longo... A roda girou pra valer, causando uma verdadeira tempestade, revirando a minha vida. Somando tudo, acho que me sai bem, errei bastante, aprendi com os erros e no final de tudo, me transformei! Abri os olhos pra tantas coisas que antes não percebia e vi o quão simples pode ser a felicidade... Antes eu julgava conhecer o caminho, agora o encontrei e comecei a realmente andar pó ele, viver por ele... A Roda que gire à vontade - já não temo cair, pois já aprendi a girar com ela.

Fim do Ano 2000 – Louise Nakazawa

Manhã de paz, silêncio – jejum e meditação – preciso purificar corpo e mente, equilibrar meus chakras. Limpar, esvaziar, esquecer, para só depois lembrar, pensar com clareza e então agir! Prometi a mim mesma que hoje vou me harmonizar, preciso e vou! Ser leve, pura, maleável e transparente, como a água deve ser...
Meu corpo é meu templo e agora nele me fecho.
Não sei ao certo o momento, mas a resposta surgiu clara como água. Agora eu sabia o que fazer e como agir – minha tarefa parecia tão fácil, comparada a toda a dor que esta tormenta já trouxe... tão simples, como as coisas geralmente são... Liguei para Isaac, ele não atendeu – busquei então sua presença pela rede de Indra, através da Santana, fortalecida pelo nosso elo de Qui, há tanto estabelecido e assim o encontrei – pensei e na hora soube que ele compreendera. Fui à capela encontrar aos outros (e mais tarde ele também).
Assim que cheguei (de táxi, pois ontem fui para casa com Michael) fui surpreendida por uma notícia no mínimo perturbadora: Sarah havia acabado de sair!
Amanda estava nervosa e o professor beirava o pânico - estava quase catatônico quando cheguei a seu quarto; estabeleci o contato visual e o ajudei a compreender que não havia culpa pela destruição de sua capela, como Sarah induziu, pois não houve a intenção. Ele voltou, mas ainda tinha muito medo, por isso pronunciei as antigas palavras japonesas de harmonia “que Buda o acompanhe”, mas não sei bem por que... pois elas não apreciam ter sentido algum naquela situação...
Senti minha mente dar voltas, os pensamentos se misturavam e não conseguia segurá-los por mais de um instante... Fui para meu quarto, tentei meditar, mas só piorava as coisas... Os outros vieram falar comigo, mas exceto por Gray, o idioma que eles falavam soava tão estranho... Estávamos no corredor, em frente a porta do meu quarto; eles falavam e eu não entendia nada! Gray então me explicou: era inglês – eu é que inconscientemente falava em japonês! Mesclando com algumas palavras em italiano também...
Relutei quando Amanda ofereceu ajuda – não por falta de confiança, de modo algum, ela e J’J estão entre as pessoas em quem mais confio – só me parecia perigoso tentar me encontrar pela Santana... Não queria prendê-la em meu abismo. Eles insistiam que esta era a única forma... eu não conseguia pensar direito e acabei concordando – então ela tirou uma caneta e riscou minha testa... silêncio...

Abri os olhos, meu corpo estava cansado, meus pés doíam, a cabeça latejava, mas eu estava ali: dona de meus pensamentos, novamente conectada a Santana. Amanda também parecia cansada; olhei ao redor: Gray ainda estava lá, J’J tinha ido embora, mas em seu lugar estava... Isaac – ele veio! Lembrei de tê-lo chamado mais cedo, sabia que tinha algo importante a lhe dizer, mas o que era mesmo? Ah sim, meu diário, havia um papel, algo escrito esta manhã, acho que estava no quarto... “que horas são?”perguntei a ele – “cinco horas” – isso explicava o cansaço; Amanda havia sentado no chão, me encostei na parede e tirei os sapatos, Isaac nos servia um chá que havia preparado enquanto estávamos ali... no ritual. Gray foi descansar, Amanda foi comer; eu também sentia fome – ainda estava em jejum – mas o chá ajudou, ao menos me dava mais um tempo. Depois eu comeria, agora havia algo mais importante – precisava falar com Isaac.
Perguntei se esperava há muito tempo -“um pouco; recebi teu recado”.


Pedi que entrasse em meu quarto e fingi não perceber que ele mancava – ofereci a poltrona e ele sentou – parecia cansado. Me desculpei por tirá-lo de seus compromissos, mas o que eu tinha pra dizer era realmente importante e inadiável – afinal, em poucos dias teríamos um grande desafio, talvez nossa jornada chegasse ao fim – eu não queria partir carregando tanto minha roda karmica. Ele me olhava apreensivo, calado.
Pedi desculpas novamente, mas devido à confusão em minha mente, precisaria ler meu diário - não podia me enganar, não com aquelas palavras, era importante de mais para correr o risco. Ele só concordou com a cabeça. Então eu abri o diário e li...
“Até pouco tempo eu achava que a melhor forma de lidar com meus sentimentos era ignorá-los – isso tornava tudo mais fácil, acredito que para ambos. Durante todo esse tempo eu acreditei que isso só afetasse nós dois e mesmo assim já era tão difícil... de alguma forma eu sempre soube que não devia acontecer... só que agora, eu tive a certeza, agora eu sei que é impossível”. Fiz uma pausa, respirei fundo – ele me olhava com os mesmos olhos vazios, de dor e cansaço – eu disse:
“Eu quero que saibas Isaac, o quanto sou honrada por toda a confiança que depositas em mim; quando eu disse que sempre poderias contar comigo, pra qualquer coisa, eu falei a verdade. Só espero que o que eu te digo agora não mude isso” – Ele concordou novamente – eu voltei a ler:
“Quando eu vi o tamanho do teu sacrifício eu vi onde mora o teu coração... percebi que não tenho direito de sentir o que sinto, só que ainda assim... eu sinto...” (nesse momento minhas mãos tremiam, meu coração palpitava, eu não conseguia olhá-lo... e ainda havia tanto a dizer)
”A única coisa que eu posso fazer quanto a isso é tentar transformar este sentimento em algo bom, algo produtivo para todos nós, porque, de uma forma ou de outra, eu sei...”
Essa parte eu lembrava claramente, não precisava ler, larguei o diário - precisava olhá-lo nos olhos, sem fugir, mas doía tanto.... Eu precisava olhar em seus olhos e mostrar a verdade nos meus, afinal, seria a primeira e única vez que eu diria estas palavras...
“... eu sei que sempre vou te amar... a ti e a tudo que é importante pra ti, o que faz com que desde já eu as ame também... É claro que nem todos meus sentimentos são assim tão nobres, é claro que fui egoísta, desejei que tudo fosse diferente, desejei ser tua e acima de tudo, desejei o teu amor e não foi só uma ou duas vezes... Só que... quando eu olho nos olhos da pequena Ana, me sento tão insignificante... Elas precisam de ti e tu delas!
Tudo que eu mais quero é te ver feliz e nisso... eu sei que não participo.” (eu tentava segurar as lágrimas, mas algumas escapavam... as palavras que eu dizia saiam tão do fundo de meu peito que... eu já não o via com clareza, mas sabia que ele estava ali, que me ouvia e isso basta).
“Eu precisava te dizer essas coisas porque só ignorá-las, já não funciona mais... e enquanto meu coração for teu, não pode ser de mais ninguém... Dizer isso é muito mais difícil do que parece... dói, dói fundo, mas eu precisava, eu preciso dizer... Que te amo... pra então poder deixar de te amar... eu sei que é complexo, mas eu preciso disso.”
Agora eu o via novamente – fez-se o silêncio – na verdade eu não esperava ouvir nada, não era preciso, eu só tinha que falar, deixar de ignorar, era pesado de mais para carregar sozinha. Dizer isso, ter a certeza de que ele sabe, era como exorcizar... e foi isso que eu disse a ele, quando ele falou tudo aquilo que eu já sabia... o amor que tem por elas, a tristeza e alegria que vê naquele hospital... que tudo que eu disse não foi exatamente uma surpresa; que não podia me dar nada em troca... Disse ainda que a roda gira e nunca se sabe onde para, mas espera poder sempre contar comigo e que fica feliz por minha atitude de “girar a roda” e dito estas coisas ele se levantou e foi, mancando, em direção a porta...
Eu sentia um misto de alívio e paz - paz novamente em meu coração... Aquele momento era o fechar de um ciclo, era por si só “a roda”, o fim e o início... e foi assim, guiada por um impulso, não sexual, mas algo muito maior, que eu o chamei, pouco antes de atravessar a porta, aquela porta que o levaria para sempre... Fui até ele e o beijei... um beijo de amor e despedida, o selo, o fim... Não posso dizer se ele retribuiu como eu esperava, pois eu não esperava... também não sei como reagiria se as coisas tivesses tomado outra dimensão... mas não tomaram. Foi melhor assim, um beijo para guardar e um mundo para esquecer...


Fiquei um tempo sozinha em meu quarto – me sentia subitamente feliz! Desci até a cozinha e enquanto jantava fui convidada por J’J e Amanda para lhes acompanhar ao bar do pai dela – mais uma surpresa feliz: algo a fez mudar de idéia, vencer o orgulho e encontrar o pai. Aceitei o convite, mas não fui com eles, os segui na “pretinha” - pretendia passar em outro lugar depois.

O passeio foi agradável – o lugar é muito bonito, acolhedor; segundo a Amanda um “típico bar irlandês”; seu pai foi, ao seu modo, gentil comigo, só o clima para o lado do J’J não era nada amistoso e isso me incomodava... hm, talvez me importe mais com esse amigo do que pensei, aliás, com ambos... Durante a conversa dos futuros “compadres” (sim, pois serei madrinha do bebê!) fiquei brincando com o afilhado da Amanda, um menino lindo, mais ou menos da idade da Ana... Crianças me fazem bem... Embora exaustivo o dia parecia acabar bem – me despedi e peguei a estrada, rumo a Academia do Águia e foi aí que a coisa piorou...
No meio do caminho a pretinha parou... “estranho”; não passava carro algum, nem sinal de posto, nada! Tentei ligar para o J’J: “fora de área”. Me vi sozinha no meio do nada, exceto pelos olhos brilhando na mata, observando... pedi ajuda a eles, mas não se interessaram. Deixei o farol ligado e resolvi esperar, até que alguém se aproximou... um mendigo, parecia leproso ou algo assim, puxava uma carroça cheia de quinquilharias - pediu um trocado e eu dei – quando perguntei sobre o posto mais próximo ele começou a mudar de assunto... falava que o “posto havia fechado, pois seu dono havia sumido”... Insistia que eu sabia de algo e, a princípio, não liguei os fatos, achei que o homem delirava e foi aí que ele falou da fábrica de leite... o caso que resolvemos com Gray... Comecei a andar apressada pela estrada, pensei em Amanda:
“Estou com problemas - e sérios”...


Quando percebi, ele estava em minha frente, só que maior... parecia um daqueles licantropos corrompidos... Eu mal podia pensar, ele me batia e eu tentava revidar, mas meus golpes pareciam não afetá-lo... Nem sei bem quantos socos atingiram meu rosto... Consegui atordoá-lo momentaneamente com um Ki ai, ao menos ganhei tempo para fugir, mas quando alcancei certa distancia senti meu pescoço cortando, meu ar se esvaindo... ele tinha uma espécie de chicote me puxava de volta, pelo pescoço. Eu lutava para me soltar, mas só piorava... Minha única chance era atingir sua mente, precisava me concentrar... consegui!
Me soltei, ou melhor, cai... Mal podia me defender e ele continuava a atacar... me suspendeu no ar, já não podia me mover, não podia mais lutar... quando então alguma coisa o puxou... uma garra... só lembro de ser brutalmente arremessada na água e depois... escuro, frio...

Dor, muita dor! Abri os olhos; não enxergava direito, havia um homem sobre mim... hm... era como respirar pela primeira vez... Vozes; pareciam discutir - o homem e mais alguém... tanto frio... tentei falar - tinha algo quente em minha garganta, em minha boca - era sangue! As vozes... havia uma familiar... tossi o sangue, sentei... Amanda, ela veio! Que bom... a outra voz sumiu... Agora J’J se aproximava, me carregou, me cobriu,... Ele disse algo sobre “concentrar meu Qui, espantar o frio”, fiz o que pude... não foi muito. Entramos num carro... Amanda me cobriu mais - fomos até a capela - J’J levou a moto. No caminho contei a ela o que a dor permitiu. Chegamos – J’J nos esperava e me carregou novamente, até seu quarto, eu acho, pelo tamanho da banheira... Amanda tirou minhas roupas, me ajudou a entrar na água – era quente...

Me sentia tão frágil, impotente, fraca... Conversamos mais enquanto eu me esquentava na banheira e tirava aquele cheiro de sangue – contei melhor o que houve e perguntei sobre o cara que me salvou, o nome... “Deelan... é um licantropo; ele matou o outro, que te atacou“ – essa era toda a informação... Não entendi porque ela riu quando perguntei o nome dele, eu não vi a menor graça... parece ser um tipo de piadinha particular, dela com J’J, a qual eu não posso saber, sei lá... Se ele não tivesse impedido eu certamente teria desencarnado... Vesti as roupas limpas que Amanda trouxe do meu quarto e descemos até a cozinha – lá estavam J’J e o Gray. Eles informaram Sr. Gray do ocorrido - “Sinto muito Dra.”. Depois disso subi ao meu quarto e dormi... numa noite que quase não teve fim...

NY, Dez, 27. Qui.
Acordei não muito cedo, ainda tossia - havia sangue em meu travesseiro.
“Hm, tudo dói...”. Fui até o espelho – meu celular tocou – era Chang, pediu uns instantes, passou a ligação “Alô – pulguinha? Onde é que a pulguinha se esconde que não vem ver vô? Daqui uns dias eu volto pro Japão, fico abandonado lá... e a pulguinha nem pra se despedi do velho avô.”
Combinei de encontrá-lo ainda pela manhã – Voltei ao espelho – Batidas na porta:
“E aí Louise, acordo? Tá legal?” – “Já vou melhorar J’J, obrigado”.
Enfim: O espelho... hm.. nada bonito de se ver... olho esquerdo fechado, um monte de talhos, hematomas, nariz inchado, boca cortada... No corpo nada preocupante: cortes, hematomas, nenhum osso quebrado, mas o pescoço... hm, em pensar que por dentro tá ainda pior... Não posso aparecer assim na frente do meu avô... E não posso estar assim para enfrentar Sarah. Preciso fazer um bom ritual de cura: Ho Tien Chi.
Acendi as velas – as que ganhei do Michael – me despi, posição de lótus, esvaziei a mente e entoei o mantra... renovação, equilíbrio, harmonia... pronto! Bem melhor! Espelho... bom, não é exatamente uma Miss, mas já não assusta – o pescoço e o olho ainda tem marcas, alguns arranhões no rosto: maquiagem e gola alta – pronta para o café!

Depois do café, peguei a katana e fui à pretinha; “tudo bem com ela?”pergunto;“dito por ela mesma” responde J’J. Fui ao Central Park - contei à Alex o ocorrido e perguntei sobre o cara que me salvou – ele não conhece – disse que vai dar uma olhada...
Fui à academia de Chang encontrar meu avô – quanto ao meu incidente não ouve muitas perguntas. Fomos tomar um “chá decente” e tivemos uma longa conversa... Segundo meu avô, Chang é um “agricultor” enquanto eu, uma “caçadora”... o “carcaju”... Depois observávamos alguns alunos treinando e ele disse _ “Teu irmão não sabe de nada, é uma garça manca”;
– “Ah, ele faz bem o que se propõe a fazer, avô”. – “hm... e o que tu vê ali pulguinha?”. - “Um grupo que anseia por conhecimento”, respondo eu. Ele argumentou: “Nem todos ali buscam conhecimento”.
– “Mas se ao menos um assim estiver, avô, então os esforços de Chang já valeram a pena”.
- “hm... anseiam por conhecimento, né?... onde?” disse ele me desafiando... Observei com “olhos de água” e descrevi os três alunos que pareciam vislumbrar o caminho... Meu avô sorriu satisfeito e completou...
_ “E é preciso um velho vir do Japão pra mostrar isso...”.
_ “Talvez o carcaju esteja ocupado de mais para manter os olhos abertos a tudo”.
– “E o que é que ocupa tanto um carcaju?” – “Outros carcajus... mais fortes” eu disse.
_ “E não usa mais essa história do carcaju pra te defender!”.
Notei que entre aqueles três alunos “especiais” havia uma menina muito próxima da verdade... Após o término da aula de Chang pedi permissão para treinar em seu tatame – treinar com minha katana; queria mostrar meus avanços ao meu avô, além de... verificar o interesse daquela menina em especial... “Parece uma pulga” disse meu avô... Meu velho e sábio avô... Depois do treino passei algum tempo com a menina, Nikki é seu nome; conversamos, bebemos chá... Vi nela traços semelhantes aos meus, anos atrás... a ânsia por algo desconhecido... um sentimento inexplicável... Nunca me imaginei como mestre de alguém, na verdade ainda me sinto uma aluna - sobretudo perante Ms. Won ou o Águia... Ainda não satisfiz minha própria ânsia, mas não posso ignorar o fato – se for minha a tarefa de auxiliá-la a abrir os olhos e dar seus primeiros passos rumo ao caminho... não vou negar um compromisso tão nobre. Preciso meditar sobre isso, mas daqui uns dias - agora cada momento é precioso!

À tarde estive com Águia, na academia – conversamos brevemente sobre os acontecimentos do dia anterior – todos eles. Combinamos de nos ver, ou melhor, treinar a noite, na capela. Pretendo aproveitar a noite para conversar melhor, entender o que se passa conosco... com ele.

Quando cheguei à capela soube que teríamos um “caso extra” à investigar – Amanda descobriu que um tipo de “guerra” entre os vampiros têm tomado grandes dimensões, algo que nos preocupa sobretudo pelo número de vítimas – adormecidos. Fomos até um bar – Denian estava lá – parece que uma grande “tempestade” causou a morte de um dos deles... um antigo - o que de alguma forma impulsionou o massacre em toda a sua “linhagem”, conforme ele explicou. Os membros desta “tradição” estão matando uns aos outros, num impulso repentino e incontrolável, levando consigo o que estiver no caminho.
A tal “tempestade” é a mesma que, dias atrás Sr. Gray acompanhava via internet... ele havia me dito que eles (a tecnocracia) estavam solucionando um problema...

Denian nos guiou até um dos “líderes”, alguém que talvez pudesse fazer algo a respeito. Andamos por uma série de túneis sinistros e chegamos até a criatura de 4 braços... Vikus Após uma longa conversa – da qual fui porta voz (uma vez que Isaac não apareceu – acho que teve problemas) - tudo que conseguimos de significante foi uma lista, com 11 nomes e onde encontrá-los: os “ainda” sobreviventes e causadores da atual guerra... entre eles Denian. Na saída encontramos – outro deles, “Lambach”. que nos deu algumas informações preocupantes... parece que este conflito é apenas o começo... outros “antigos” estão prestes a acordar... Sr. Gray quase perdeu o controle.

Já era tarde quando Michael apareceu na capela – o levei para ver o resultado do presente que deu ao professor - o robô, hoje habitado pela “criatura extra planar” chamada Tizu... ah e agora com dedos articulados! Depois descemos... Michael parecia muito cansado, mas ainda assim compareceu ao treino, honrando seu compromisso. Agradeci a ele pelas palavras e pelo gesto que tomou comigo na noite de Natal... foi o impulso que eu precisava para me mover... Pedi desculpas por tê-lo constrangido naquela mesma noite – ele disse que não era preciso – eu insisti:
_ “Eu preciso me desculpar... me sinto muito mal por ter te causado aquele tipo sentimento”;
_ “Tu sempre me causa um sentimento...” foi a resposta dele – ouve um silencio e sorrisos...
_ “Eu só queria que eles fossem sempre bons...” – respondi;
_ “Eles são... não precisa pedir desculpas”.
_ “Bom, agora já pedi! Tu parece cansado; meu dia também foi longo, acho melhor deixarmos o treino para amanhã”; _ “Mas tu precisa praticar...” diz ele;
Eu penso “existem outras formas de praticar o dô”: _ “Fica aqui hoje, descansasse comigo...”. Ele baixou os olhos, refletiu um tempo e disse: _ Eu ainda preciso de provas Louise...
_ “Olha Michael, eu bem sei o tamanho da atitude que tomei e tudo que ela representa, eu sinto a mudança que trouxe e a harmonia em meu coração... agora, se isso não é uma prova pra ti... não sei... acho que tu só vai ter as provas que esperas pagando para ver... ao menos que não queiras me dar um pouco do teu tempo... (eu falava sem parar... nunca havia lhe falado assim; sua “resistência” havia me irritado, magoado até... duvidava se ele também sentia saudades... se me queria; continuei a falar)... e talvez eu também precise de provas...” E foi aí que ele me interrompeu - puxou meu corpo junto ao dele e me beijou... e assim, pela primeira vez, subimos ao meu quarto na capela... não preciso dizer o quanto que a noite foi maravilhosa... ah, preciso sim: foi espetacular!

Combinei com Michael de irmos cedo à Capela, a fim de ajudar Amanda na organização do jantar – em torno das 5hsPm estávamos lá. Como o combinado 08h30min todos já haviam chegado – inclusive Isaac, sempre o último a chegar e o primeiro a sair – se antes eu podia imaginar, agora sei bem o pq...
O jantar foi agradável e a troca de presentes bastante divertida, principalmente o amigo secreto. Alguns fatos merecem destaque: Sr. Gray ganhou 2 gravatas vermelhas (Amanda e eu) e por sua vez presenteou Amanda com munição especial e um “terninho preto”; Já do professor ela recebeu uma barra de prata – segundo ele “matéria prima” já que não possuía habilidades para transforma-la em uma adaga... J’J como meu amigo secreto lembrou o fato de eu, antigamente ter “medo” dele, nunca tendo entrado em seu quarto... e me presenteou com uma roupa de gueisha – erótica, lógico – não pude evitar de enrubescer de vergonha. Ironicamente Águia tirou Isaac como amigo secreto... fiquei um tanto constrangida, sem necessidade alguma, mas fiquei, assim como fiquei ao receber o presente de Isaac – um lindo e delicado lenço de seda vermelho, com um dragão bordado... Fiquei constrangida por diversos outros momentos e, embora tenha evitado ao máximo demonstrar qualquer atenção especial, olhei com inevitável tristeza quando ele partiu, não exatamente por sua ausência, mas por imaginar para onde ele estaria indo e se ainda voltaria... Dentro de uma das espadas que lhe presenteei, havia uma poesia, há muito escrita – em japonês – não sei pq o fiz, mas o fiz. Ele ainda não viu.
Durante um momento a sós com Amanda falei superficialmente sobre minha angústia, sobre Michael e pedi sua ajuda para localizar o pai do bebê assassinado, sem contar-lhe nada sobre o caso e pedindo sigilo absoluto... Até tentei usar magia pra localizar o suspeito, mas a resposta foi muito vaga... Gostaria de pedir ajuda à J’J, mas se Isaac quisesse isso ele mesmo o teria feito, portanto só me restou lamentar meu fracasso...
No caminho para casa com Águia, conversávamos sobre a noite anterior e comentei como me sinto mal por ter que esconder coisas do meu avô... “esconder coisas” - acho que foi essa a “gota d’’água”, o estopim para a bomba que explodiu a seguir... Michael perguntou sobre o que tem me incomodado tanto e por que preciso esconder... Tentei dizer que não gosto desta situação, mas me sinto obrigada, pois certas coisas não devem nem podem ser ditas; disse que faço isso na tentativa de afastá-las, fazer com que não existam... ele argumentou dizendo que talvez eu esteja escondendo algo de mim mesma...
Fui sincera ao dizer que o fiz por muito tempo, mas que já não estou mais em condições de esconder coisa alguma de mim mesma... Neste momento o carro parou – havíamos chegado ao meu edifício. Michael disse que iria embora e perguntei pq. “preciso pensar“ ele disse, ”se já não escondes mais nada de ti, então agora precisas aprender a dominar teus sentimentos” – dominar um sentimento... como se isso fosse fácil...

Ainda pedi que ele não fosse, pedi que ficasse comigo, disse o quanto preciso dele neste momento, mas ele ficou impassível... parecia muito magoado e isso foi como uma espada atravessando meu peito. Eu disse o quanto isso me entristece, não queria que fosse assim; que estou me esforçando, mas é difícil e sem ele por perto fica mais difícil ainda... Ele disse que preciso fazer isso sozinha e pediu pra que eu ligue quando me julgar pronta – “vou precisar de provas” disse antes de partir.
Subi sozinha o elevador e os 10 andares que separam minha casa do chão, embora tivesse visto meu chão partir há alguns instantes... Abri a porta e não havia ninguém - percebi o quanto minha casa fica vazia sem ele, o quanto eu fico vazia sem ele e fiquei... desesperada – pois só em desespero eu faria o que fiz – liguei para minha mãe, pedi sua ajuda.


O tempo mudou de repente,
Assim, como as coisas sempre são.
E houve um vendaval...
O mar ficou agitado e tudo voou...
Agora se ouvem os trovões
E relâmpagos brilham no céu:
Sinais de tempestade...
Ela vem, purifica, lava
e leva consigo tudo que precisa ir...


Num período que, para mim variou entre segundos e semanas, ela chegou. Eu estava no mesmo lugar, sentada no sofá, próximo a porta, ao lado do telefone, minha bolsa e casaco estavam no chão e foi assim, fragilizada e totalmente perdida que contei a ela tudo que está se passando em meu coração...
Tive o cuidado de não entrar detalhes que comprometessem meu segredo; também não contei sobre a família de Isaac, só disse que tenho um vínculo muito forte e que não posso deixar de me preocupar com ele, que não pretendo fazer isso, nem por Michael, mas também disse o quanto sei que não quero perdê-lo...
Das coisas que ela disse só o que lembro de ouvir com atenção foi que preciso descobrir o que tanto me atrai no Isaac, que preciso mudar o tipo de carinho que tenho por ele, o tipo de preocupação.
No fim da conversa tive algo que não lembro de ter tido antes, talvez por nunca pedir ou talvez nunca tenha precisado tanto: colo de mãe! E pela primeira vez na vida ela me viu chorar, me pôs na cama e velou meu sono... Nunca estive tão próxima dela, nunca me mostrei tanto... Apesar de toda a dor, isso foi bom e provou que tudo tem razão para acontecer, dormi mais aliviada...

Sai de manhã para fazer as últimas compras de Natal - ainda faltava o presente do meu amigo secreto (prof.) – aproveitei para comprar uma boneca para a Ana, já que não a tiro da cabeça. Fui então até o hospital onde a menina está internada, a filha de Isaac... isso ecoa em minha mente. Hoje ela estava acordada e pude ver o quão linda ela é... linda, doce e amável – recebi o melhor presente de natal que poderia querer: seu sorriso, seu carinho... Ela batizou a boneca de Lila; prometi voltar mais vezes, o que a alegrou e a mim mais ainda... tristeza e alegria, estes sentimentos tem se tornado uma coisa só. Conversei com a enfermeira e fui até o Cti ver sua mãe, a mulher de Isaac – Euridice. Seu estado parece estável, porém sem perspectivas - está assim há 2 anos - pouco antes de eu conhecê-lo. Me pergunto por quais razões ele a mantém ali, contrariando sua tradição, seus próprios dogmas e a resposta vem depressa, do meu próprio coração: Amor.
Só o amor nos leva a contrariar tudo que nos correto, a questionar nossas crenças e agir sem pensar nas conseqüências, assumir os riscos, mentir até pra si mesmo...



Natal em Família




Michael



Meus pais ou agora “os noivos”



Meu irmãozinho Bartollo “o ator”



Meu irmão Chang e minha cunhada Shosi - Um belo casal!



E a suspresa da noite: Oji-sam


Nosso natal foi tranqüilo, embora tenha passado grande parte da noite pensando na pequena Ana naquele hospital; será que Isaac ficou com ela? Tive a feliz e inesperada surpresa de meu avô – Hakura Sam – Ele deve ter se perguntado o que é que há de bom nesta América que todos vão e não voltam, deixam o vô “abandonado no Japão”, então, decidiu ver por seus próprios olhos. Tomou um avião por conta própria e veio averiguar. Claro que sua presença, além de felicidade me trouxe um certo receio... Em seus olhos, minha casa é sua, já que não me casei, ainda pertenço a eles e, portanto, é inadmissível, Michael ou qualquer outro homem passar a noite aqui, sobretudo um americano... Me senti novamente adolescente, sob o olhar de meu velho avô, tendo de omitir detalhes... Voltei a ser “sua pulguinha”, foi até divertido ter suas rabugices novamente. Só duas coisas trouxeram momentos desagradáveis à noite: as investidas de minha mãe contrariando meu avô – muitas e muitas vezes e a implicância dele com Bartollo, chamando-o de “touro burro” em japonês – Bartollo sem perceber acabou por dar uma lição em meu avô, dando-lhe um de seus presentes... deste momento em diante, passou a chamar-lhe apenas de “touro”... Embora Bartollo nem tenha notado, amoleceu até mesmo o duro coração do Sr. Hakura. Já Michael conquistou quase instantaneamente seu respeito, por conversar com ele em japonês e portar-se diante dele tão bem quanto qualquer oriental. Eles conversaram por toda a noite, assim eu passei grande parte dela com meu irmãozinho “touro”.
Amanda e J’J apareceram – o Natal deles parece ter sido bem menos agradável; eles deram a notícia da gravidez pra a família dela, que não reagiu nada bem, sobretudo seu pai. Ela estava muito magoada, mas seu orgulho a impedirá por um longo tempo de fazer uma nova tentativa... E como seu pai também parece teimoso e tão orgulhoso quanto, creio que perderá de participar deste momento tão bonito...
Convenci Michael a permanecer depois que meu avô fosse embora – ainda não tinha lhe dado todos os presentes – ele pareceu intrigado e ficou - lhe dei uma cópia da chave do meu apartamento (dentro de uma caixa de chocolates). Ele pareceu contente, mas não sei... talvez tenha achado precipitado. Só quis mostrar a liberdade e confiança que lhe dou e o quanto gosto de tê-lo aqui. De resto, aproveitei o presente de minha mãe e a noite não poderia ter acabado melhor...
Quando acordei percebi que Michael já não estava na cama – “estranho, ele sempre dorme tão tranquilo aqui...” – vesti alguma coisa e desci, ele estava treinando. Fui até a cozinha e meu pai estava lá, foi a primeira vez que ficamos sozinhos desde que ele veio a NY – conversamos um pouco sobre Michael e sobre minha mãe – ela ainda estava dormindo. É linda a forma como sues olhos brilham quando ele fala dela e, se ele está tão feliz, não vejo porque me preocupar. Eles parecem dois adolescentes juntos, nunca os vi tão felizes... acho que eu nunca me senti assim...
Voltei a Michael e esperei até terminar seu treino – há algum tempo tenho pensado na espda que meu avô me deu – a katana que pertenceu aos meus ancestrais, honrados samurais, a katana que, até então nunca havia pertencido a uma mulher. Mostrei-a a ele na esperança de que pudesse me ajudar,“acho que já é hora de desembainha-la” eu disse e a ofereci a ele, mas ele não a tocou, disse que sendo um ocidental nunca poderia toca-la, então tirou um bambu do jardim e com ele iniciou os ensinamentos... o que posso dizer, tomei uma surra de bambu empunhando uma katana... foi um começo, tudo precisa ter um e, geralmente, não é simples..
Michael me levou até a capela, já que deixei minha moto lá – elel acha muito perigoso eu dirigir na neve. Me surpreendi pelo movimento da casa – toda a família do prof. estava acampada no jrdim – cerac de 6 adultos e 3 crianças -Amanda parecia particularmente incomodada com o tumulto, enquanto J’J brincava com as crianças. Liguei para Isaa pedindo que me levasse novamente ao local do crime – combinamos de nos encontarra a tarde – espero ter mais sucesso desta vez.
Sr. Gray me convidou para acompanhá-lo até uma investigação – aceitei. Fomos até um estacionamente público onde havia um carro esportivo ultra-moderno o aguardando, de lá fomos até a cena de um crime – toda uma família havia sido morta violentamente, o pai e dois filhos pareciam ter “explodido”, como se algo tivesse saído de seus corpos; acompanhando um rastro de sangue chegava-se ao corpo da mãe – estripada e enforcada com os próprios intestinos – apesar de familiarisada com este tipo de violencia, fiquei bastante abalada. Amanda e seu parceiro policial estavam lá – havia uma sobrevivente, uma testemunha: Jéssica a filha mais nova da família, cerca de 9 anos, Gray pediu que eu falasse com ela, mas comoAmanda já fazia isto, esperei pra só depois então me aproximar.
O que Amanda e eu pudemos perceber, pelas memórias, sensações e pelo desenho que a menina fez, foi que o agressor, a “coisa” que os atacou tinha alguma relação com o leite, as caixas de leite. Fiquei admirada pela forma como Gray agia coma menina – tão gentil, paciente...
Fomos então, Gray e eu até o estabelecimento que produzia o leite– segundo Sr. Gray localizado dentro da área de investigação deles (este era o 5º assassinato do tipo). Amanda nos seguia em seu carro. No caminho sondei Gray sobre sua habilidade em tratar com crianças e, depois de desviar o assunto ele assumiu já ter convivido com crianças – Me pergunto se isso tem a ver com a vida que um dia ele teve antes de ser um deles...
Chegamos - entramos no lugar através dos atifícios de Gray – lá analisando o local Amanda descobriu que, as embalagens mais recentes do leite lá produzido e embalado, traziam no rótulo um símbolo usado para evocar um tipo de demônio. Gray nos mostrou duas amostras de tecido orgânico identicas – uma coletada das visceras de uma das vítimas, a outra da nata do leite – o mesmo leite ingerido pela família assassinada.
Subimos até a administração do estabelecimento e lá encontramos outra vítima seu abdomem estava dilacerado mas ainda assim ele nos atacava – seu corpo estava sendo usado como hospedeiro da criatura. Foi uma luta rápida e então percebemos um carro fugindo – acompanhamos Gray na perseguição – com seus métodos soube para onde o fugitivo iria e encontrou uma rota para intercepta-lo. Paramos neste exato local – eu e Amanda estrategicamente esperando enquanto Gray jogou um caminhão na frente do carro perseguido – o fugitivo saltou através do vidro e eu saltei em cima dele, Amanda e Gray atiravam à distancia – derepente o homeme foi se transformando em algo semelhante a um lupinos, mas deformado – concentrei toda minha habilidade em dô para golpeá-lo (facilitada pela magia que havia concentrado no caminho), mas ele pareceu mal sentir – os outros atiravam, acertavam e ele não caia, até que Gray arremeteu-se sobre ele e conseguiu por um tipo de coleira, em pouco tempo a criatura voltou a forma humana, agora desacordada.
Voltei com Amanda até a capela – concordamos em deixar a investigação prosseguir por conta da tecnocracia, desde que Gray nos informasse as descobertas relevantes – ele foi cuidar disso. Pude notar que Amanda estava bastante abalada, não só pelo seu estado, era mais que enjôo, mas como ela não quis falar achei melhor respeitar seu silêncio – também não me sentia em condições de aconselhar ninguém.
Só passei na capela para pegar minha bolsa (com as coisas que precisava para o ritual), minha moto e sair ao encontro de Isaac – J’J disse que os lupinos estiveram lá – eu o havia pedido para falar com eles por mim – eles voltarão mais tarde; agora não podia pensar nisso, já estava quase atrasada.
Cheguei ao local combinado e ele estava lá, desta vez falamos muito durante o caminho, muitas coisas importantes precisavam ser ditas, relatos, fatos, nada além disso – Isaac me entregou o dossiê da policia, nele haviam as fotos da cena do crime, o corpo do bebê, laudos da autopsia, coisas do gênero... Na casa retornei até o quarto para fazer o ritual – posicionei os 4 elementos em torno de mim – vela como fogo, incenso como ar, pedra como terra e um jarro de água bem a frente. Tirei os sapatos e as roupas mais pesadas, me posicionei, entoei o mantra e busquei... qualquer indício que me levasse até o assassino... Impressão psíquica do local, o Qui deixado pelo acontecimento... enfim qualquer coisa que me ajude a reconhecê-lo, mas foi só isso...
Retornei a Isaac um tanto desolada, ele disse suspeitar do pai, tem indícios de que ele estava prestes a despertar e pode ter sido manipulado – é preciso encontra-lo. Enquanto saíamos Isaac pediu que eu o acompanhasse a mais um local – fui mais uma vez sem fazer qualquer idéia do que se tratava – mas fui, claro...
Para minha total surpresa era um hospital. No elevador ele disse que precisa fazer algo muito perigoso, com chances de não sair vivo – quando disse isso senti meu coração apertar – disse que, se isso acontecer precisa que eu faça uma coisa por ele “qualquer coisa” foi minha resposta, qualquer coisa... Andamos até a ala pediátrica – as enfermeiras o cumprimentavam, o conheciam – enfim entramos num quarto, o quarto de uma menina, cerca de 4 anos, ela dormia profundamente, parecia cansada. Não sei se posso descrever o que senti; Isaac acariciava a cabeça dela, seu cabelo havia caído dado o tratamento. Ele pediu que eu cuidasse dela se algo acontecesse a ele, que fizesse por ela o que já havia feito por ele antes - “claro” eu disse sussurrando, minha voz não saia. “É, eu tive mesmo razão em fazer o que fiz, mesmo contra tua vontade, elas precisam de ti...” foi como pensar alto. Perguntei seu nome – Ana.

Ele disse que ela até poderia sair do hospital, se pudesse ficar com a mãe... Perguntei o que havia acontecido com a mãe – está em coma, há muito tempo – Naquele momento me senti uma idiota por sentir o que sinto, era como se eu não tivesse esse direito, de gostar tanto dele. Minha dor parecia tão besta, parecia nada comparado àquilo, se eu pudesse dizer mais alguma coisa naquela hora pediria desculpas... passei minha mão sobre a mãozinha dela, tão pequena, tão frágil, e tive vontade de sumir, mas não podia – ele precisa de mim, elas precisam de mim. Ele perguntou algo para a enfermeira sobre o estado da menina e disse voltar depois – saímos.
Sentia meu corpo tremer, minhas mãos gelarem, um aperto no peito, tinha medo de falar qualquer coisa, estava prestes a explodir em lágrimas, mas não tinha esse direito, não agora, não na frente dele. No elevador precisei perguntar por que eu – “Porque eu sei que tu vai fazer, tu já fizeste isso por mim, sei que vai cuidar da minha família” - Cuidar da família dele, “A família dele”, isso pesava como se o céu caísse sobre mim – respondi tão baixo quanto o respirar “Quando eu disse qualquer coisa eu falei sério, qualquer coisa que tu precises - qualquer coisa”.
Na saída em frente ao hospital ele tornou a falar dos riscos de sua missão, da importância de eu compreender isso – respondi exatamente o que meu coração sentia “da primeira vez que tu falaste eu entendi e a cada vez que tu repetes, eu entendo de novo” só o que eu não disse é que cada vez que ele repete, eu sofro de novo... Por último ele pediu descrição “Acha mesmo que precisava me pedir isso” - ele nem respondeu, sorriu torto e partiu. Fiquei ali, observando até vê-lo misturar-se a multidão...

Voltei à capela esperando a resposta da reunião; havia muito barulho graças a “sei-lá-o-que” que o professor inventou de instalar no telhado – fui até meu quarto, precisar chorar, ficar sozinha e entender tudo isso, fiquei lá até que Michael ligou, dando a resposta da reunião: Eles aceitaram!
Dia 28 à noite, ainda não se sabe o local. Depois de avisar aos outros – inclusive ao Isaac (por telefone), fui para casa, mas antes passei no Bartollo, precisava de um carinho, um abraço ingênuo, ouvir qualquer besteira que nada tivesse a ver com todo o resto e foi assim, fiquei um longo tempo só abraçada nele e mais algum tempo ouvindo bobagens, até ri um pouco, foi bom e mesmo sem saber ele sentiu que havia algo errado comigo e ficou feliz por eu estar lá – me deu até um presente – outro bicho de pelúcia, um coração, mal ele sabe o quanto eu precisava de um novo...
Fui para casa, liguei para Michael buscando sua companhia... queria lhe dizer tantas coisas que não podem ser ditas, mas me contentaria em apenas compartilhar estes sentimentos e receber um pouco da sua paz... Ele não veio...